Tese da Antropologia da UFSC enfoca linguagem criada por surdos no interior do Piauí

03/07/2013 16:26

Várzea Queimada, comunidade rural do interior do Piauí, onde surdos e ouvintes comunicam-se por meio de uma linguagem gesto-visual denominada cena. Tema foi estudado pelo doutorando Éverton Luís Pereira. Foto: Éverton Luís Pereira.

O doutorando em Antropologia Social da UFSC Éverton Luís Pereira defende na próxima segunda-feira, 8 de julho, a tese “Fazendo cena na cidade dos mudos: surdez, práticas sociais e uso da língua em uma localidade no Sertão do Piauí”. Orientado pela professora Esther Jean Langdon, sua pesquisa enfoca uma linguagem gesto-visual nomeada localmente como cena, que é utilizada para a comunicação entre surdos e entre surdos e ouvintes de uma comunidade rural do município de Jaicós (PI). A defesa será às 14h na sala 110 do Departamento de Antropologia do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) da UFSC. Haverá intérprete de Libras.

O trabalho de Éverton dá visibilidade a um tema pouco explorado: a existência de línguas de sinais não oficiais. É o caso da língua denominada cena. Para realizar sua pesquisa, o estudante passou um ano na comunidade de Várzea Queimada, formada por aproximadamente 900 habitantes, dos quais em torno de 40 são surdos. “Foi um contato intenso. Todos ali sabiam que eu tinha ido com o objetivo de aprender a cena. Então, os surdos me visitavam e eu cheguei a morar com famílias de surdos. E vi que todos ali conseguem se comunicar, ou seja, tanto os surdos quanto os ouvintes sabem ‘fazer a cena’”, explica. “É uma comunidade bilíngue”.

Sua tese chama atenção para a necessidade de documentar essa língua, que tem uma estrutura lexical muito diferente da Língua Brasileira de Sinais (Libras), esta reconhecida como uma das línguas oficiais do país. Outro alerta é para a necessidade de políticas públicas que respeitem a diversidade linguística. “Existem no Brasil outras línguas de sinais que não podem ser ignoradas”, explica Éverton. “Quantas já não foram extintas?”, questiona.

A tese mostra também o contexto onde esta língua de sinais surgiu, a comunidade de Várzea Queimada. Éverton relata como a comunidade vem lidando com a chegada da Libras, as dificuldades e barreiras entre as duas línguas bem como as políticas públicas voltadas para pessoas com deficiência neste local que possui um dos mais baixos IDHs (índice de desenvolvimento humano) do Brasil.

Além da orientadora Esther Jean Langdon, participam da banca examinadora os professores Emilia Pietrafesa de Godoi (UNICAMP/SP), Leland McCleary (USP/SP), Oscar Calávia Saez (PPGAS/UFSC), Vânia Zikán Cardoso (PPGAS/UFSC), Evelyn Martina Schuler Zea (PPGAS/UFSC) e os suplentes Márcia Grissoti (PPGSP/UFSC) e Tarcisio Leite (Departamento de Artes e Libras/UFSC). Para realizar sua pós-graduação, Éverton recebeu uma bolsa de doutorado da Capes, entidade que também financiou seu doutorado sanduíche na Universidade do Texas (EUA). A pesquisa teve apoio do INCT Brasil Plural.

Mais informações:
Éverton Luís Pereira – everton.epereira@gmail.com


Laura Tuyama / Jornalista da Agecom / UFSC

laura.tuyama@ufsc.br

Foto: Éverton Luís Pereira

 

 

Tags: antropologiaLibrasPPGASsurdezUFSC