Impasses e desafios na produção de alimentos foram tema de seminário na UFSC

14/09/2012 10:29

O Seminário A produção contemporânea de alimentos para a humanidade: impasses e desafios, coordenado pelo professor Clarilton Ribas foi realizado dia 13 de setembro no Centro de Ciências Agrárias.  Clarilton abriu o seminário dizendo que um dos paradoxos do século XXI é que nunca produzimos tanto alimento e nunca tantos passam fome. Sepultamos, disse ele, o pensamento de Thomas Malthus (1766-1834) que estudou a produção de alimentos de duzentos anos e fez um comparativo com o crescimento da população, concluindo que a fome seria uma inevitabilidade histórica, já que a produção de alimentos crescia em progressão aritmética e a população de forma geométrica. Friedrich Engels (1820-1895) lhe fez contraponto dizendo que a ciência e técnica se desenvolviam em progressão geométrica.  Estava certo. A humanidade produz, atualmente, alimento para 2,1 vezes a população. Mas o que se faz com os alimentos? Há mais de um bilhão de pessoas famintas, e dados dizem que produzimos cerca de 600 gramas de arroz/pessoa/dia.

Fábio Dal Soglio, da UFRGS, falou sobre “A produção de alimentos e a agroecologia.” Como a modernização da agricultura ocorrida no século XX está afetando a produção de alimentos e o meio ambiente? O modelo industrial que adotamos dependente de insumos, principalmente químicos, foi colocado como única solução para o problema da fome. Os impérios industriais ocupam todos os lugares para dizer ser esta a única solução possível e as consequências são que pequenos agricultores estão “enforcados”, o meio ambiente está afetado, as pessoas que trabalham na produção sofrem com a contaminação por agrotóxicos, o que já se tornou um problema de saúde pública semelhante aos de consumo de drogas.

A ANVISA libera todos os anos, dados de análises de alimentos com teor de agrotóxicos além do limite permitido. Sendo que, na maioria dos casos, não é suficiente lavar ou tirar a casca para eliminar o excesso.

A produção deixa uma “pegada” ecológica insustentável como o efeito estufa e a liberação de metano. A agricultura brasileira responde por cerca de 80% do que o Brasil produz de efeito estufa, ou seja, ultrapassa em muito a responsabilidade da indústria nesta produção.

Outras questões são o desmatamento acabando com um bioma muito importante para o planeta, o consumo excessivo de água e a diminuição da biodiversidade. Há espécies cumprem funções que não conseguimos suprir. Fábio mostrou um mapa com os “hotspots” da perda de biodiversidade. Para ele o “efeito McDonald´s” de homogeneização alimentar é altamente prejudicial, não mantemos a diversidade local de alimentos.  Dependemos cada vez mais de empresas que produzem nossas sementes, grupos que compram nossos produtos, a produção cresce e a fome continua aumentando.

Há cerca de 250 mil plantas conhecidas, destas 30 mil poderiam ser usadas, sete mil foram domesticadas, 120 são as importantes para alimentação, nove respondem por 75% da alimentação mundial e três delas: milho, arroz e trigo, por 50 % da alimentação.

No caso dos animais há 80 espécies de animais domesticados, sendo 14 importantes para a alimentação, mas 33% das raças de animais domésticos desapareceram ou estão em fase de desaparecimento e 1.500 das 5.000 raças de animais domésticos correm perigo.

As variedades modernas são desenvolvidas em função da produtividade o que vem ocasionando a perda de nutrientes. Resumindo, disse Fábio, o resultado da industrialização mais o uso de agrotóxicos é a dependência cada vez maior, como, por exemplo, o não acesso às sementes; a falta de soberania e segurança alimentar; as tecnologias não adaptadas; os danos ambientais; danos à saúde do agricultor, seus familiares e consumidores; perda de diversidade e dívidas. Deveríamos, segundo o pesquisador, ter o mesmo esforço que usamos no combate às drogas, em relação ao combate aos agrotóxicos.

O modelo atual de produção de alimentos não está funcionando e parte dos agricultores, mesmo sendo produtores, passa fome. A resposta seria uma transição para uma agricultura local, com base ecológica e camponesa, com valorização do conhecimento local, geração de trabalho e conexão agricultor e consumidor.  Este modelo que propõe uma reconexão entre agricultura e sociedade, agricultura e natureza e agricultura e agricultor é chamado de “Recampenização da agricultura”.

Rubens Nodari, do CCA/UFSC falou sobre como a segurança alimentar e nutricional que estão na pauta de todos os governantes do planeta. Também citou a Lei brasileira de segurança alimentar, de 2006, e concentrou o foco de sua exposição no problema do monocultivo e da produção de transgênicos, já que arroz e milho se prestam a commodities. As grandes empresas, disse o pesquisador, estão aliadas. Atualmente 10 empresas dominam 73% das sementes certificadas. Então a questão das patentes de mercado e o monopólio das sementes são atualmente o principal problema da agricultura, disse Nodari citando Vandana Shiva, filósofa e ativista indiana, que falou na Rio +20 sobre o controle da natureza por meio das patentes. Ela citou a campanha de Gandhi (1869-1948) que, em 1930, empreendeu uma campanha na Índia contra a patente que os ingleses tinham sobre o sal. Vandana conclamou as pessoas da Rio + 20 a lutarem pela quebra das patentes. Disse que a luta de deve ser local, regional, nacional e internacional.

Nodari citou também o recente fracasso dos Estados Unidos que apesar de usar 80% do milho  transgênico, passaram pelo maior revés na produção em consequência de uma forte seca.

Terminou com um “recadinho da ciência”, citando a Origem das Espécies (1859) de Charles Darwin (1809-1882) em que o naturalista relata como um canteiro com diversos tipos de gramíneas teve muito melhor produtividade em um ano comparado a outro com só um tipo de gramínea.

Mais informações  professor Clarilton Ribas: (48) 3721- 2659 e 3721-5416 e professor Rubens Nodari : ( 48)3721-5330

Alita Diana/ Jornalista da Agecom/ UFSC
alita.diana@ufsc.br

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