Hospital Universitário também tem Terapeutas da Alegria

02/07/2012 07:54

Diversos integrantes são estudantes da área de saúde

O ambiente pesado dos hospitais se transforma no palco de teatro e descontração dos Terapeutas da Alegria. O grupo de voluntários se fantasia de palhaços-doutores para difundir cultura e arte, amenizando o sofrimento dos pacientes. A ideia surgiu em 2002, na cidade de Tubarão, no Sul de Santa Catarina, e se multiplicou para outras regiões. Na UFSC, o projeto de extensão existe desde 2008 e conta com cerca de 80 membros que atualmente realizam visitas ao Hospital Universitário.

Não basta boa vontade para entrar no hospital como um terapeuta da alegria. Durante seis meses os participantes passam por treinamento que envolve aulas de biodança, oratória, expressão corporal, desmecanização dos sentidos e teatro. A partir destes conhecimentos, os “calouros”têm autonomia para criar um personagem e acompanhar as visitas ao hospital, sob a supervisão de integrantes mais experientes.

De segunda a sexta-feira, os Terapeutas da Alegria vão a diferentes alas do HU. Os integrantes, em sua maioria estudantes da área da Saúde, têm a oportunidade de aplicar o conhecimento adquirido em sala de aula, de um modo diferente da relação corriqueira entre médico e paciente. Professores, profissionais da saúde e membros da comunidade também participam do projeto que tem inscrições abertas a cada início de semestre. As informações para ingressar no grupo são divulgadas no site www.terapeutas.ufsc.br.

Dra. Aquarela ou Dra. Abelhinha
Os palhaços que partem em direção ao Hospital Universitário, cantando e interagindo com o público, pouco lembram o grupo que minutos antes se encontrou no hall do Centro de Ciências da Saúde da UFSC – sem fantasia e até demonstrando alguma timidez. Caracterizados, os integrantes parecem incorporar os personagens. Até o final da visita, não há diálogo com Marina (estudante de psicologia) ou Geny (uma das professoras participantes). A resposta virá apenas da Dra. Aquarela ou da Dra. Abelhinha.

O ambiente onde predomina a doença é invadido pelos palhaços-doutores. Os terapeutas se dividem em pequenos grupos e partem para os quartos. Quando o nariz vermelho surge na porta, a reação do paciente é imediata. Na cama, debaixo de sete cobertores e com aparelhos para auxiliar na respiração, um poeta e músico internado se empolga com a visita e presta homenagem aos terapeutas recitando um poema sobre “o palhaço”.

A enfermeira adverte que o paciente estava apenas um dia fora da UTI e devia evitar esforço físico. Em vão. O sorriso e a emoção ao receber a visita comprovam: não há contraindicação para consumir a alegria destes doutores. Ao lado do leito, uma familiar que há poucos minutos chorava angustiada sorria em um momento de descontração.

Os efeitos da terapia destes palhaços se estendem aos familiares, que sofrem com a angústia e impotência diante da doença. “Vamos além do cunho assistencialista. Mais do que ser um palhaço, temos a responsabilidade de humanizar o ambiente hospitalar”, avalia uma das coordenadoras do projeto e professora do Departamento de Farmácia há 18 anos, Geny Aparecida do Canto – a Dra. Abelinha durante as visitas. Os benefícios não são restritos aos paciente e familiares, como destacam os participantes. Para a formação do aluno, a experiência ajuda a superar a timidez e as atividades possibilitam uma visão mais humana dos procedimentos clínicos.
Doce simbólico
No quarto ao lado, dois pacientes e seus familiares se divertem com a encenação de um dos grupos de terapeutas. Ao final da trama, Dra. Babaloo distribui chicletes recheados por desejos dos espectadores. Saúde, amor, paz e fé são os sentimentos mais lembrados por eles.

O doce é apenas simbólico, mas o sorriso dos pacientes e a esperança renovada para a recuperação são concretos. “Volte sempre”, diz o homem do leito à esquerda, após visível esforço para agradecer a visita. Muitos dos internados recebem diversas “consultas” dos palhaços-doutores, criam vínculo com os terapeutas, ganham apelidos e aguardam ansiosos próximos encontros. “Quando o grupo volta de férias, alguns pacientes e enfermeiros manifestam que sentiam a nossa ausência”, disse Marina Deschamps – a Dra. Aquarela, pintora que utiliza sentimentos como matéria-prima.

A visita de terça-feira à noite é encerrada. No caminho até a saída do hospital, os terapeutas são abordados por crianças, acompanhantes e funcionários. Em seguida, o grupo se reúne em círculo para debater a atividade e, assim como quando se encontraram no hall do Centro de Ciências da Saúde, voltam à identidade real.

Para quem acompanha o trabalho dos terapeutas pela primeira vez, tudo parece extraordinário. Não é comum deixar um ambiente tão rígido como o hospitalar sem sentirum mal-estar. A situação que parece única, porém, acontece todos os dias, em diversos hospitais, por muitos grupos de palhaços-doutores.

Mais informações: www.terapeutas.ufsc.br

Texto e fotos: Mateus Vargas / Bolsista de Jornalismo na Agecom

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