Semana Ousada de Artes: pianista André Pires se apresenta nesta terça
O pianista, maestro, professor e pesquisador André Pires se apresenta nesta terça (22), às 21 horas, no Auditório Garapuvu (Centro de Eventos). O evento, que faz parte da Semana Ousada de Artes, tem entrada franca. Sob o título Presciliano Silva e Francisco Valle: ousando a tradição, André vai executar peças desses dois compositores mineiros do século 19 ao piano e também comentá-las, sintetizando sua tese de doutorado defendida em junho último na Unirio.
Ambos os compositores tiveram parte de sua formação no Rio de Janeiro, mas Silva estudou depois em Milão, e Valle, em Paris. André constrói associações entre as peculiaridades das duas obras e as diferentes tradições musicais em que ambos mergulharam. Além de resgate histórico, trata-se de um exame crítico de processos de canonização cujas especificidades – relativas a toda a complexidade dos diferentes “romantismos” presentes no âmbito colonial – André realça musicalmente, com criatividade e rigor. Na abertura da tese, André comenta: “A música de Presciliano, operística ao gosto franco-italiano, perdeu espaço para a música romântica de viés germânico, quando da substituição do Império pela República em 1889; e a música internacionalista de Valle caiu no ostracismo após a instalação da hegemonia do pensamento nacional-modernista pós-1922”.
Professor do Curso de Música da Universidade Federal de Juiz de Fora, premiado como pianista e como regente de coros – melhor regente, por exemplo, no Concurso Sudamericano de Interpretación Coral, na Argentina, em 2004 –, André preferiu resumir seu currículo no autorretrato seguinte.
Uma das composições interpretadas por André nesta terça pode ser ouvida aqui.
Autorretrato
André Pires
Nasci numa família de músicos.
O pai de meu pai tocava tuba numa banda civil, um irmão dele era cantor de rádio. Minha avó e seis tias maternas, sem exceção, tocavam todas algum instrumento. Minha mãe Lourdes foi professora de acordeon e piano: minha primeira e fundamental professora de música.
Nasci no Rio de Janeiro, mas sou mineiro: meu avô materno me garantiu que gato que nasce no forno não é biscoito, é gato.
Minha estréia foi aos quatro anos, solando “Jambalaia” e “Serenô” ao acordeon, no palco do cine Taboada, em Macaé. Daí em diante tomei gosto pela coisa e continuei subindo em palcos brasileiros, latino-americanos e europeus para fazer recitais de piano, órgão, solar concertos com orquestra, reger corais, fazer música de câmara, escrever arranjos, participar de shows de MPB, gravar LPs e CDs. Nunca reneguei minha herança didática: andei por aí e por aqui me arriscando no ensino de piano, teoria, análise, órgão, história da música, estética, canto coral, até mesmo regência…
Possuo graduação em piano e mestrado em música pela UFRJ, e doutorado em música pela UNIRIO. Estudei na Alemanha como bolsista da KWU, onde fiz especialização em órgão. Minha vida profissional me trouxe do Rio a Juiz de Fora, passando antes por Tiradentes, Mariana e São João del-Rei. Nessa caminhada conheci e me debrucei sobre a obra de três compositores mineiros: Manoel Dias de Oliveira (Tiradentes, XVIII), Presciliano Silva (São João del-Rei, XIX) e Francisco Valle (Juiz de Fora, XIX).
Não me perdoaria se não mencionasse alguns nomes-bússola em minha formação musical além do de minha mãe, que já citei: Homero Magalhães, Antônio Guedes Barbosa, Arnaldo Estrela, Walter Greb, Myriam Dauelsberg. Outros tiveram enorme importância para mim, mas não caberia aqui citar todos!
Trabalho enquanto professor na Universidade Federal de Juiz de Fora desde 1984 onde, de 2000 a 2010, acumulei a função de regente do Coral da UFJF.
Sou flamengo bissexto, voto pela esquerda. Fui católico – daqueles que envergonham o Ratzinger, mas que também se sentiram envergonhados quando ele foi escolhido papa. Hoje, namoro a igreja anglicana. Parodiando Milton Nascimento, tenho um compromisso com a felicidade. Sou companheiro de vida da Luiza Guimarães há 33 anos, e com ela partilho o orgulho e as alegrias da paternidade do André Monteiro e da Roberta Pires (in memoriam).