UFSC homenageia pesquisador dos “clones verdes”

10/08/2011 07:44

 

No laboratório, multiplicação de mudas de qualidade

Miguel Pedro Guerra é um agrônomo que gosta também de pensar como biólogo. Esse perfil é fundamental na relação entre a pesquisa básica e aplicada que desenvolve junto ao Centro de Ciências Agrárias da UFSC. Seu trabalho busca conhecer, selecionar, reproduzir, multiplicar e manejar recursos genéticos vegetais  especialmente da Mata Atlântica, mas um de seus mais recentes projetos envolve vegetação da Amazônia.

Sua trajetória será valorizada com o Prêmio Destaque Pesquisador UFSC-2011. A homenagem reconhece sua contribuição a uma área do conhecimento que conquistou papel fundamental no desenvolvimento da agricultura. São pesquisas relacionadas a programas de melhoramento, à arte e ciência de gerar mudas de qualidade.

Patrimônio genético
Micropropagação, cultura de tecidos vegetais, fisiologia do desenvolvimento vegetal, biologia celular e molecular, embriogênese somática e biofábricas são palavras-chave em seu currículo que registra mais de uma centena de artigos publicados em revistas científicas. Parte do esforço é voltada a caracterizar e conservar germoplasma, material que representa o patrimônio genético de uma espécie.

“Eu também sou banqueiro”, brinca satisfeito o professor titular da UFSC sobre os bancos de germoplasma, vivos e congelados, que mantém no Centro de Ciências Agrárias. Uma das mais preciosas espécies resguardadas é a araucária, com um rico material genético conservado a 180 graus negativos.  Outro tesouro é a coleção viva de bromélias da Mata Atlântica.

Formado em Agronomia, mestre em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Miguel Pedro Guerra aprofundou seu conhecimento sobre a flora no doutorado em Ciências Biológicas na área de Botânica e Fisiologia Vegetal, na Universidade de São Paulo. Depois no pós-doutorado em Biologia Celular e Biotecnologia Vegetal, na Universidade da Califórnia.

Filho de agricultores da Serra Gaúcha, sente orgulho dizendo que continua sendo um agricultor. De fato, seu trabalho permanece voltado à produção agrícola. Só que há anos sua contribuição não resulta do cultivo da terra, mas da produção de conhecimento. Vive imerso na pesquisa agronômica, em estudos que buscam melhoria de plantas com potencial de alcançar maior qualidade e produtividade, de gerar renda e alternativas para uma produção agrícola menos destrutiva.

No bromeliário, banco de germoplasma com cerca de 80 espécies

“Talvez tenhamos que entender os princípios científicos que regem as práticas antigas, com certeza mais sustentáveis do que agora”, reflete o professor do Departamento de Fitotecnia e dos programas de pós-graduação em Recursos Genéticos Vegetais e de Biologia do Desenvolvimento da UFSC. Membro titular da Comissão Nacional da Biodiversidade (Conabio), ligada ao Ministério do Meio Ambiente, Guerra é um crítico dos transgênicos, da dependência de insumos, da “insegurança alimentar”, da “Revolução Verde”, do uso intensivo de fertilizantes e agrotóxicos e de grande parte dos processos atuais empregados na agricultura e no agronegócio.

Biofábrica
Sua pesquisa busca alternativas a esses sistemas e tem um foco importante na pesquisa básica, mas nos últimos anos está chegando também a aplicações com comunidades de agricultores. Exemplo recente é a implantação de uma biofábrica na Floresta Amazônica, junto às obras da Usina Hidrelétrica de Jirau. O projeto faz parte do pacote de compensações sócio-ambientais exigido em função da obra.

Na biofábrica de Jirau são produzidos clones de mudas de abacaxizeiro, bananeira e pupunha – todos de alta qualidade genética e sanitária. No caso do abacaxi, um programa de melhoramento desenvolvido em conjunto com a população local ajudou a aprimorar ainda mais a doce fruta amazônica.

“Pedimos aos agricultores, conhecedores de sua roça, que escolhessem as melhores plantas. A essa visão integramos nosso olhar para escolher as plantas matrizes”, conta o pesquisador. O objetivo é que trabalhando com mudas de alta qualidade genética, sem contaminação de pragas e doenças, as famílias garantam boa produtividade e sustento ─ e também colaborem com a conservação da floresta. “Uma agricultura mais integrada ao ambiente é intensiva em conhecimento e não em insumos”, considera Guerra.

Trabalho semelhante de melhoramento genético e multiplicação de mudas é desenvolvido em parceria com a Epagri e famílias de pequenos agricultores da Serra Catarinense, nesse caso com a goiabeira serrana. O processo participativo com os agricultores resultou no lançamento de duas cultivares da fruta. A cultivar é uma espécie melhorada, obtida depois de um longo trabalho de coleta, observação na natureza e uma série de cruzamentos, para seleção das plantas com características favoráveis ao cultivo e à qualidade da fruta.

“Foram 20 anos de estudos para se chegar à planta com as melhores características”, lembra Guerra. Ele também já trabalhou com o palmiteiro, a bracatinga, o butiá e diferentes bromélias. As espécies são escolhidas por sua importância socioeconômica, cultural, sua função no ecossistema de origem, valor de uso real ou potencial, grau de ameaça e potencial de uso na agricultura. Cada uma delas um tesouro para Miguel Pedro Guerra.

Saiba Mais:
Linhas de pesquisa:
– Fisiologia, genética, conservação e uso de espécies perenes
– Morfogênese in vitro
– Cultura de tecidos vegetais
– Conservação e uso de recursos genéticos vegetais
– Fisiologia do desenvolvimento vegetal

Produção Científica:
126 – Artigos completos publicados em periódicos
23 – Capítulos de livros publicados
23 – Trabalhos completos publicados em anais de congressos
96 – Resumos publicados em anais de congressos

Orientações em andamento:
4 – Dissertação de mestrado
3 – Tese de doutorado
2 – Supervisão de pós-doutorado
1 – Iniciação científica

Supervisões e orientações concluídas:
29 – Dissertações de mestrado
7 – Teses de doutorado
2 – Supervisões  de pós-doutorado
34 –  Trabalhos de conclusão de curso de graduação
22 – Iniciação Científica

Por Arley Reis / Jornalista na Agecom

Contato com Miguel Pedro Guerra: (48) 3721-5331 / E-mail: mpguerra@cca.ufsc.br

Mais informações sobre o Prêmio Destaqe Pesquisador UFSC/2011:

– Débora Peres Menezes / Pró-Reitora de Pesquisa e Extensão / debora@reitoria.ufsc.br / 3721-9716
– Jorge Campagnolo / Diretor de Projetos de Pesquisa / campagnolo@reitoria.ufsc.br / 3721-9437

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