UFSC estuda produção de nanopartículas de prata e impregnação em diferentes materiais

Professor Cesar Franco e estudantes no Laboratório de Síntese Inorgânica e Nanocompósitos. Fotos: Francisca Nery
Conhecidas desde a antiguidade por gregos e romanos, as características antibacterianas da prata são potencializadas pela nanotecnologia – a tecnologia que manipula a matéria na escala deátomos e moléculas. Para o setor têxtil as nanopartículas de prata dão origem a tecidos capazes de controlar bactérias, fungos e ácaros (meias que não geram mau cheiro, por exemplo). Para a indústria de eletrodomésticos, a inovação tecnológica resulta em geladeiras com maior poder de conservação dos alimentos, máquinas de lavar com poder antibactericida.
Outros vários exemplos poderiam ser citados, diversos produtos já estão no mercado e nas universidades impulsionando a pesquisa. Na UFSC, o potencial das nanopartículas de prata estimula o trabalho junto ao Laboratório de Síntese Inorgânica e Nanocompósitos (Labsin), ligado ao Departamento de Química. O coordenador do laboratório, professor Cesar Vitório Franco, desenvolve pesquisas em nanociência e nanotecnologia desde 2005. Em 2007 orientou um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que permitiu estudos sobre produção, impregnação e eficiência das nanoparticulas de prata como agentes bactericidas em malhas. Em 2008, outro TCC possibilitou estudos sobre preparação e caracterização de nanopartículas de prata e sua adição em silicone.
A proposta de trabalho com as pequeníssimas partículas de prata foi também apresentada em 2008 pelo estudante Raphael Antonio de Camargo Serafim, então orientando do professor Cesar Vitório Franco, ao projeto Sinapse da Inovação. O concurso promovido pela Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e realizado pela Fundação Certi tem como objetivo prospectar e transformar boas ideias do meio acadêmico em negócios de sucesso. Contemplado, Raphael desenvolveu estudos sobre a sanificação de ambientes e dispositivos hospitalares usando produtos de nanotecnologia com elevado poder antiséptico (tudo à base de nanopartículas de prata). Também reconhecido na universidade com o Prêmio Destaque da Iniciação Científica (escolhido entre os melhores projetos apresentados no 18º Seminário de Iniciação Científica da UFSC), o trabalho culminou na fundação de uma empresa de nanotecnologia, a TechNano Solution (TNS), que foi incubada no Parque Alfa Tec, parque tecnológico de Florianópois.
“É a primeira spin out saída do laboratório sob minha coordenação”, orgulha-se o professor Cesar Vitório Franco. “Busco a formação de pessoas que possam criar seus próprios negócios. Queremos formar geradores de empregos”, faz questão de ressaltar. Atualmente a equipe que atua no LabSiN se aprimorou na tecnologia de produção de emulsões contendo nanopartículas de prata, já testou o uso desse aditivo químico em tecidos, numa parceria com o setor têxtil, e continua pesquisando a impregnação de polímeros (os populares plásticos). A equipe também integra uma rede nacional de nanotecnologia e trabalha em parceria com professores do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFSC no desenvolvimento de um filtro constituído por nanopartículas visando o fornecimento de água potável para ser acessível à população de baixa renda.
Nano = Anão
As pesquisas com nanopartículas de prata em tecidos são desenvolvidas em parceria com o setor têxtil, e como tratam de alta tecnologia, dependem de sigilo industrial. Mas em palestras para empresários do ramo, o coordenador do laboratório difunde os benefícios da inovação: “Nanotecnologia pode gerar materiais com propriedades otimizadas, agregar valor e cativar os clientes mais exigentes”, destaca o pesquisador. Sempre citando exemplos, ele mostra como as pesquisas no campo da nanotecnologia se inspiram na natureza para, a partir da manipulação dos átomos, alcançar propriedades com alto valor tecnológico agregado.
“Nanotecnologia é manipular a matéria na escala atômica. É tecnologia que lida com estruturas menores que 100 nanômetros”, explica, lembrando que o prefixo nano vem do grego, que significa anão. “A nanopartícula é para a bola de futebol como a bola é para a terra”, complementa o professor Cesar Vitório Franco, referindo-se à diminuta escala nanométrica (um nanômetro equivale a 1 milímetro dividido 1 milhão de vezes).
Segundo ele, atualmente a UFSC conta com boa estrutura para desenvolvimento das pesquisas neste campo, como o Laboratório Central de Microscopia Eletrônica. O setor multiusuário é equipado com potentes microscópios eletrônicos, com poder de ampliação de até um milhão de vezes, equipamentos fundamentais para caracterização dos materiais impregnados com nanopartículas de prata. Materiais que têm recebido a atenção de pesquisadores de todo o mundo e chamam atenção tanto por sua inovação quanto por dúvidas e polêmicas relacionadas às suas características inéditas.
Empreendedorismo incentivado
A oportunidade de participar do Sinapse da Inovação em 2008 foi fundamental para queo então estudante de graduação em Química da UFSC, Raphael Antonio de Camargo Serafim, montasse seu próprio negócio. Orientando do professor Cesar Vitório Franco, um incentivador do empreendedorismo, Rafael propôs a criação de uma empresa produtora de nanopartículas de prata, a TechNano Solution (TNS).
A ideia inicial era aproveitar o potencial bactericida em equipamentos cirúrgicos, cateteres, aventais, tintas – materiais direcionados a reduzir a infecção hospitalar. Os R$ 30 mil conquistados foram fundamentais para constituição da empresa e também para a elaboração de um plano de negócios para o empreendimento que foi incubado no Parque Tecnológico Alfa.
Em 2009 Raphael participou de uma segunda fase do Sinapse da Inovação. Dessa vez o concurso teve como diferencial a abrangência estadual e o objetivo de apoiar o desenvolvimento de protótipos. Nesse momento foi contemplado com R$ 50 mil para desenvolver um aditivo químico antibacteriano para o setor têxtil. “Foram apoios fundamentais”, lembra, citando também a conquista de R$ 120 mil da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia), por meio do Programa Prime (Primeira Empresa Inovadora). A TNS conquistou também um novo sócio, Gilberto Heinzelmann, que com sua expertise aproximou a TNS de importantes empresas europeias que há anos trabalham com nanotecnologia.
Graças e estas novas parcerias atualmente o portifólio da TNS inclui soluções à base de nanopartículas de diferentes funcionalidades: para a área têxtil, embalagens e utensílios de cozinha, filtros, ambientes e equipamentos, cosméticos, fármacos e tintas. “Nossa visão é nos tornarmos uma empresa de referência em nanotecnologia no Brasil, oferecendo soluções customizadas para empresas”, conta com satisfação Raphael. “Tivemos um alicerce sólido para estruturar e agora estamos na iminência de comercializar”, complementa satisfeito.
Mais informações:
– Com o coordenador do Laboratório de Síntese Inorgânica e Nanocompósitos (LabSiN), César Vitório Franco, e-mail:franco@qmc.ufsc.br, fone: (48) 3721-9765 / 3721 6852 – Ramal 214
– Com Raphael Serafim, TechNano Solution (TNS), raphael@tnsolution.com.br
Por Arley Reis / Jornalista da Agecom