Biblioteca Universitária traz poemas de Lindolf Bell em exposição

23/09/2009 17:35

Fotos: Maria Luiza Gil

Fotos: Maria Luiza Gil

A Exposição Catequese Poética de Lindolf Bell, instalada no primeiro piso da Biblioteca Universitária (BU) da UFSC, pode ser visitada até o dia 30 de setembro. Segundo a diretora da BU, Narcisa de Fátima Amboni, a mostra pretende, além de trabalhar a questão cultural dentro da biblioteca, “homenagear este poeta catarinense, cujas obras são bastante pesquisadas, resgatar sua memória e divulgar a sua poesia”.

A exposição traz recortes de jornal e frases retiradas do acervo de Bell, que sempre lutou pela personificação da poesia através da oralidade, visualidade e do concretismo. Uma de suas criações é o Corpoema, que propõe vestir os homens com poesia. Foi do Corpoema que veio a inspiração para os estandes em acrílico em formas de camiseta onde estão colados recortes de jornal.

A Casa do poeta Lindolf Bell, da Fundação Cultural de Timbó, é responsável pela mostra e pela preservação de sua memória. Lindolf Bell nasceu naquela cidade, foi líder do Movimento Catequese Poética, que permitiu a milhares de pessoas o acesso à poesia e à arte, e mobilizou artistas, desenvolvendo uma nova linguagem poética e ampliando a intervenção social de jovens escritores. A Catequese Poética é considerada um marco tanto na cultura popular brasileira como na literatura, pois a partir de Bell a poesia assumiu sua função transformadora do tempo, do homem e da sociedade.

Bell tirou a poesia das gavetas, tornando-a mais acessível através de apresentações, declamações, conferências e debates. Transformou viadutos, praças, boates e estádios em veículos da poesia, com a participação de outros artistas e poetas. Seguiu o impulso da ruptura para cantar poemas em praça pública. Os movimentos de arte de rua nasceram de sua coragem.

O poeta dedicou-se à sua Catequese pelo país e exterior, incentivando a poesia declamada em praça pública. Como disse Paulo Leminski, “nunca tinha visto ninguém dizer poemas tão bem, com tanta intensidade, tanta garra, tanto domínio de voz, do gesto e do sentido. A Catequese de Bell, a vanguarda da palavra dita, é um tempo forte dessa efervescência”.

É a partir de Lindolf Bell que a poesia catarinense recuperou o teor de originalidade (legado por Cruz e Souza) e passou a sugerir algo novo. Exigia do poeta a divulgação direta com o público, pois assim tornava-se um intermediário vivo entre o poema e o seu consumidor. Começou a estampar diversos epigramas em camisetas, permanecendo assim fiel ao espírito irrequieto e sempre provocador que o identificou ao longo dos anos.

Ele é atualmente o mais importante nome da poesia em Santa Catarina, reconhecido nacional e internacionalmente por romper as amarras que prendiam a poesia, difundindo ideias através de painéis-poemas e corpoemas.

Em entrevista à Fundação Cultural Catarinense (FCC), quando questionado sobre algo de sua residência, Bell respondeu: “Todas as coisas que me rodeiam são raízes. A jabuticabeira que deve ter quase cem anos, a caramboleira, os baús, os móveis e todos os objetos antigos não são uma forma triste de memória, mas uma afirmação de que, num crescimento espiritual, num crescimento humano não podemos jogar nada pela janela ou no lixo. Não podemos jogar fora as raízes – elas nos preservam e elas se preservam conosco, na memória ou dentro da terra, seja onde for, mas elas também nos projetam porque, à medida que elas se preservam na terra, elas crescem fazem a gente crescer, como uma árvore. O homem é uma árvore que abriga amores, lembranças, outros seres, uma árvore que dá sombra e luz, e é para isso que a gente nasceu, fundamentalmente. Isso eu aprendi, é claro, convivendo com meus pais e também com os vizinhos, que tinham maneiras semelhantes de viver e conviver, maneiras simples mas definitivas”.

Legado

Deixarei por herança

não o poema

mas o corpo no poema

aberto aos quatro ventos

Pois todo poema

é verde e maduro,

em areia movediça

de angústia, solidão

Onde me debato

ainda que finja o contrário

em busca da verdade

e seu chão

Deixarei por herança

não o poema

Mas o corpo repartido

na viagem inconclusa

Pois todo o poema maduro

é um verde poema

E, mesmo acabado,

se estriba na inconclusão

Claro, sem esquecer,

o estratagema da paixão

Por Maria Luiza Gil / Bolsista de Jornalismo da Agecom, com informações do site www.lindolfbell.com.br.