Visita de grupo de crianças de Passos Maia se encerra nesta quarta-feira

03/03/2004 12:29

Qual a distância entre a universidade e meninos e meninas camponesas de Passos Maia? Um bom entendedor de Santa Catarina poderia dizer 516 quilômetros, mas quem olhou nos olhos dos pequenos filhos de agricultores que visitaram a UFSC nos dias 2 e 3 de março sabe que a distância é bem maior. Durante um encontro com o reitor eleito, Lúcio Botelho, eles responderam a algumas perguntas do dirigente da universidade. “Quem está gostando da visita?” Foi uma resposta uníssona. “Euuu!!!!!!” “E quem vai estudar aqui quando crescer?”. Nenhuma das 29 crianças levantou a mão.

Os pequenos de Passo Maia vieram à Florianópolis depois de vencerem um concurso de redação promovido pelo projeto de extensão que a Universidade Federal desenvolve naquele município em parceria com a prefeitura. O projeto envolve os cursos de Enfermagem, Análises Clínicas, Agronomia, o curso de Especialização em Saúde da Família e a residência em Saúde da Família, e começou no ano passado.

O trabalho desenvolvido foi o de oficinas fito-terápicas para adultos e discussão do assunto com as crianças. Dessas conversas é que nasceu a idéia de fazer um concurso de redação que envolveu as escolas dos assentamentos do MST e uma estadual. “Mais de 500 crianças participaram. Foi bonito. Elas levavam a planta para escola, explicavam suas propriedades.

Aprenderam muito”, revela Lenilza Mattos Lima, uma das coordenadoras, professora do curso de Análises Clínicas.Mas, o projeto não fica só nisso. Também há todo um cronograma de ações educativas em saúde, higiene e parasitose, visando promover um domicílio saudável. No ano de 2003 foram feitas várias oficinas para ensinar a prevenir os parasitas intestinais, crianças de 3 a 14 anos realizaram exames de fezes e as que tiveram resultado positivo foram encaminhadas para o tratamento.

“A idéia é fazer com que as famílias passem a cuidar da higiene, visando prevenir o aparecimento dos parasitas”, enfatiza Lenilza.

Ao todo, ligadas diretamente à UFSC, estão envolvidas 15 pessoas, entre professores e alunos bolsistas. O projeto segue firme este ano, já mais na linha da prevenção.

O professor Antônio de Miranda Wosny, da Enfermagem, é quem está à frente do trabalho. A idéia de um projeto na região amadureceu depois de um projeto realizado no Universidade Solidária e outros trabalhos no assentamento do MST, em Fraiburgo. A intenção, agora, é continuar fortalecendo essa parceria com o município, o que já é uma maneira de colocar no horizonte dos pequenos filhos de agricultores a possibilidade de, um dia, vir a estudar na universidade.

As 29 crianças, a maioria ex-acampados do MST, ficaram dois dias em Florianópolis e conheceram os lugares mais bonitos da cidade. No primeiro dia foram direto para a Barra da Lagoa. O maior desejo era conhecer o mar. Do grupo, apenas duas meninas já tinham tido contato com ele.

“A primeira coisa que a gente fez foi tomar a água, pra ver se era salgada mesmo”, revelam, entre risos e latinhas de Pepsi, as meninas. “A reação deles é incrível, ficam como maluquinhos”, diz a bióloga Andréa Medina, que acompanhou o passeio. Eles ainda visitaram o horto medicinal de Alécio Passos, na Lagoa da Conceição, brincaram nas dunas da Joaquina e, na quarta-feira, reservaram o dia para circular pela universidade.

Conheceram o futuro reitor, viram vídeos e se encantaram com o campus, as salas de aula, os laboratórios. Ao final da visita, entre os olhinhos brilhantes já havia quem arriscasse dizer que queria estudar aqui. “Quem sabe, né?”