Governo estadual lança programa de valorização do carvão mineral

24/10/2003 13:59

Emprego, renda, melhoria da qualidade de vida e desenvolvimento sustentado. Esses os principais objetivos que o governo estadual quer alcançar com o lançamento da pesquisa Análise Preliminar de Alternativas para Valorização do Carvão Mineral no Estado de SC, que será lançado no próximo dia 25, às 10 horas, sábado, em Criciúma, pelo governador Luiz Henrique da Silveira e o vice, Eduardo Pinho Moreira. “O carvão pode ajudar o Brasil a enfrentar crises energéticas que se anunciam e contribuir para reduzir substancialmente a importação de matérias-primas”, profetiza o governador. Participam do programa, além das Secretarias de Estado, sobretudo as de Desenvolvimento Regional, três instituições de ensino e pesquisa: Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC), a Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) e a Universidade do Sul de SC (Unisul).

Já o diretor da Fundação de Ciência e Tecnologia – Funcitec, órgão que coordenou a elaboração da pesquisa, Antônio Diomário de Queiroz, argumenta que “além de despertar o empresariado local para o aproveitamento integral do carvão mineral, o Programa visa atrair o investimento de grupos estrangeiros com experiência e tecnologia testadas na valorização do setor”.

Argumentos e justificativas convincentes para a implementação do Programa do Carvão Mineral Sustentado não faltam. O documento está organizado em quatro áreas distintas: geração termelétrica; pirólise e gaseificação; indústria carboquímica e uso de resíduos e gestão ambiental dos processos. Mostra, entre outros dados, que o carvão mineral é responsável por cerca de 23,5% da oferta mundial de energia, 39,1% da eletricidade gerada no mundo e é considerado a maior fonte de energia para uso local. No Brasil, as principais reservas estão localizadas no Sul e no final de 2001, as reservas nacionais eram da ordem de 32,7 bilhões de toneladas. É o maior recurso fóssil do país, com reservas correspondendo a mais do dobro das reservas de petróleo em equivalência energética.

De acordo com o Departamento Nacional de Produção Mineral, a oferta por ano é de 5,96 milhões de toneladas, das quais 41,95% de Santa Catarina. No entanto, o uso energético ainda é restrito, representando apenas 1,4% da matriz energética brasileira. Os altos teores de cinza e de enxofre são os principais entraves para a mineração, o beneficiamento e o aproveitamento.

“Apesar do carvão catarinense apresentar algumas características físico-químicas que complicam a sua utilização industrial, sua composição química permitiria, a partir de concepções tecnológicas adequadas, o aproveitamento econômico pelos diversos ramos industriais”, diz Márcia Hoeltgebaum, da equipe técnica.

O uso de carvão na geração termelétrica pode ser uma opção estratégica, já que a matriz energética brasileira é predominantemente hídrica, correspondendo a 79% da geração de energia elétrica no Brasil. Neste cenário, plantas termelétricas envolvendo tecnologias a óleo combustível, gás natural e queima de carvão pulverizado respondem por menos do que 19 por cento da energia total.

“Seja qual for a vertente tecnológica, a viabilidade do aproveitamento em larga escala do carvão mineral dependerá sempre do correto equacionamento ambiental em toda a cadeia produtiva, devido

ao seu elevado potencial poluidor na eventualidade de que os devidos cuidados não sejam tomados”, acrescenta Hoeltgebaum.

A Análise aponta ainda para a situação do quadro social do carvão mineral de Santa Catarina, que está basicamente limitada à criação de empregos e renda a partir de sua extração para a combustão na geração de energia elétrica. Este quadro pode ser modificado com a agregação de valor ao carvão pela produção de outros produtos finais, pela obtenção de produtos dos resíduos ou através da associação da geração de eletricidade com outras indústrias consumidoras de energia e com atividades como a pirólise, a gaseificação e a transformação do carvão para obtenção de insumos químicos, segundo o documento que será lançado.

Na geração termelétrica, as oportunidades englobam repotencialização de plantas existentes; novas centrais em locais estratégicos, co-produção de energia elétrica, combustíveis e insumos químicos e aproveitamento dos resíduos. O investimento me conceitos de co-produção de energia elétrica, de combustíveis e insumos químicos seria uma forma de proporcional a existência não apenas de alguns empreendimentos, mas de um completo parque industrial para produção de produtos com alto valor agregado a partir do carvão. A gaseificação poderia proporcionar a implantação de usinas, coquerias modernas com base em fornos de câmara e otimização de sub-produtos da coqueificação.

Não existe indústria carboquímica em Santa Catarina. Portanto, insumos químicos e fertilizantes poderiam ser produzidos, além de produtos a partir de outros processos primários de transformação do carvão mineral. No aspecto ambiental, resíduos poderiam ser utilizados para a correção do solo; haveria o crescimento da demanda e oferta de tecnologias mais nobres; atividades econômicas associadas à cadeia de valor do carvão poderiam ser geradas; bacias hidrográficas regionais recuperadas e resíduos provenientes da cadeia produtiva do carvão poderia ser aproveitados.

A solenidade do lançamento do programa do Carvão Mineral Sustentado acontecerá no auditório da Sociedade de Assistência aos Trabalhadores do Carvão (SATC), prédio que sedia um aliado importante da iniciativa: o Sindicato das Indústrias de Extração do Carvão do Estado de SC (SIECESC).