Nasci em Sarandi, Rio Grande do Sul. Meu pai era pequeno comerciante e queria que eu fosse ‘alguém na vida’. Bom, consegui ser a primeira a ter curso superior na família… Nos anos 1980, me mudei para Santa Catarina. Tenho 60 anos, 3 filhos e 2 netos e sou casada com um professor de genética vegetal”
Conte algo que não sei.
A história ambiental no Brasil é um campo novo. Começou a ganhar força na década de 1990, com forte influência dos Estados Unidos. Com isso, em 2001, enveredei minha carreira para pesquisas nessa área. Iniciamos com projetos sobre a história do desmatamento das florestas do Sul do Brasil, e avançamos para outros temas prementes relacionados ao meio ambiente. Logo conseguimos criar uma linha de pesquisa em Migrações e História Ambiental, no Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Foi um trabalho pioneiro que vem dando ótimos resultados e, ainda, é um estímulo para outras universidades.
Além da UFSC, quais são as grandes referências em história ambiental no Brasil?
O destaque deve ser dado ao Programa de Pós-Graduação em História Social da UFRJ, da UNB e a UFMG. Juntas, essas universidades têm 64 teses de doutorado. É importante ressaltar que os meus ex-orientandos, hoje doutores, já são professores de universidades em diferentes estados. Nelas, eles também estão criando os seus grupos desta disciplina, aumentando, assim, a rede.
A senhora foi palestrante do Simpósio Diálogo em História Ambiental: Brics. O que os países que integram o grupo têm em comum nas questões ambientais?
O Brics reuniu pesquisadores ambientais dos países que o compõem com o objetivo de discutir formas de serem realizadas pesquisas em conjunto. Foi um evento muito importante, inédito na área de história. Foram debatidas similaridades e diferenças. Sem dúvida, as enchentes são eventos recorrentes na maioria dos cinco países. No caso do Brasil, o Rio de Janeiro e Blumenau, por exemplo, sofrem com as cheias. Uma das deficiências observadas nas pesquisas realizadas por mim e por Lise Sedrez deixa claro que as políticas públicas investem muito pouco na prevenção dos problemas que surgem com os temporais anualmente. Uma coisa é certa: não podemos controlar a chuva, mas os desastres, sim.
E, neste caso, qual o papel do historiador ambiental?
É analisar como os desastres ambientais, que são os que têm a intervenção do homem, estão diretamente relacionados com as problemáticas sociais, econômicas, culturais e, mesmo, políticas, apontando os caminhos para evitar que esses processos se repitam.
Erros ambientais do passado ainda são frequentes?
Infelizmente, as lições herdadas do passado não estão sendo devidamente observadas, pois os mesmos erros continuam sendo praticados. Cometer infrações básicas, como não respeitar as áreas de matas ciliares, importantes para a contenção das cheias e a qualidade da água, significa falta de respeito não somente ao meio ambiente, mas também à vida humana e dos demais habitantes do planeta.
A violência ambiental é resultado da falta de legislação?
No meu entender, as violências socioambientais mais preocupantes são as silenciosas, aquelas que acontecem cotidianamente e que não são resolvidas. Por exemplo, a falta de saneamento básico para parte da população. Não podemos atribuir à falta de legislação o descontrole na degradação, pois a própria Constituição de 1988 inclui os direitos relacionados ao meio ambiente.