Projeto oferece acolhimento psicossocial à Comunidade da UFSC que sofre com os impactos da pandemia; saiba como participar

14/06/2021 09:00

Imagem ilustrativa (Imagem de PDPics por Pixabay)

Um projeto de extensão com foco no acolhimento psicossocial irá beneficiar estudantes, técnicos, docentes e terceirizados da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que vêm sofrendo os impactos causados pela pandemia. Acolhe UFSC é o nome dado para a Comissão Permanente de Monitoramento da Saúde Psicológica da UFSC que, a partir desta segunda-feira, 14 de junho, abre inscrições para acolhimento on-line individual ou em grupo.

A comissão que abarca a proposta foi criada em abril de 2020 e formalizada em portaria publicada em dezembro, coordenada pela professora Francis Tourinho, tem como objetivo formular estratégias de monitoramento, suporte e acompanhamento psicossocial específicos aos efeitos da Covid-19 sobre a comunidade da UFSC. Segundo a professora Ana Lúcia Mandelli de Marsillac, que coordena o Projeto de Extensão, a ideia é refletir e executar estratégias que contribuam para minimizar o sofrimento causado pela pandemia.

“Diante da pandemia da Covid-19, com mais de 480 mil brasileiros mortos, as pessoas têm demonstrado diferentes tipos de afetação de sua saúde mental, dada a elaboração de perdas, das transformações do mundo do trabalho, do mundo acadêmico, do distanciamento social imposto, que vem provocando inseguranças, ameaças econômicas e pessoais e necessidade de adaptação ao novo cenário, tais como o mundo do trabalho virtual”, resume.

Algumas ações da comissão já começaram e outras estão em curso. A pesquisa Estilos de Vida e Saúde Mental da População da UFSC em tempos de COVID-19, coordenada pela professora Daniela Schneider, aplicada em fevereiro 2021, por exemplo, identificou preliminarmente que 73% dos respondentes perceberam alguma piora no seu estado de saúde física/mental durante a pandemia. O objetivo do estudo é “descrever as mudanças nas condições de saúde mental e nos estilos de vida da comunidade da UFSC no período de distanciamento social, visando fornecer dados para planejar ações de atenção psicossocial e promoção de saúde em plano institucional”. Neste momento, os dados estão em fase de análise.

No site Acolhe UFSC também é possível ter acesso a informações sobre a comissão, assim como acessar os principais projetos de pesquisa e extensão da UFSC em saúde mental e atenção psicossocial, promoção de saúde e vida saudável. Já o projeto de acolhimento psicossocial individual e/ou em grupo para pessoas da comunidade universitária em sofrimento psíquico devido à pandemia vai receber inscrições, que devem ser feitas, a partir de segunda, 14 de junho.

De acordo com Ana Marsillac, todos estão sofrendo com os impactos da pandemia – mas de diferentes formas, nesse sentido o trabalho ocorre na perspectiva do um a um. Segundo ela, a ideia é que essa ação ajude os sujeitos a identificarem o que produz um agravamento do sofrimento, a buscar redes de apoio comunitárias, afetivas e de serviços, bem como a identificar situações mais graves que mereçam acompanhamento mais sistemático.

“O projeto foi lançado em maio e conta com a participação de professores, técnicos e estudantes, bem como com voluntários da psicologia. Aqueles que quiserem compor o projeto são bem-vindos. Ele é estruturado por uma equipe de coordenação geral, equipe de psicólogos clínicos, equipe psicólogos de gestão, equipe de matriciamento e ambulatório de psiquiatria”, explica.

Atendimentos individuais ou em grupo

O atendimento proporcionado pela equipe do Acolhe UFSC será on-line, individual, com número máximo de seis sessões, ou em grupo, com a duração de um semestre. “Nos casos mais graves, que necessitem de acompanhamento medicamentoso, será encaminhado ao ambulatório de psiquiatria”, afirma Ana. O projeto deve ocorrer até dezembro de 2022.

A proposta é estabelecer vínculos das pessoas em sofrimento psíquico que procuram as ações do projeto com a rede de atenção psicossocial dos respectivos municípios, visando ao cuidado integral e a continuidade do cuidado. “A partir do preenchimento do formulário, que se encontra no nosso site, direcionaremos a demanda a alguém da equipe. Essa equipe estará recebendo apoio da equipe de gestão e matriciamento para que possamos visualizar a melhor forma de acolher, um a um”, explica.

A escolha de atendimento individual ou em grupo vai depender do usuário. Aquele que buscar um espaço para compartilhar experiências poderá ter momentos relevantes junto a um grupo. Mas, caso não goste de partilhar suas questões com alguém que não seja o profissional que o acolhe, o melhor é buscar atendimento individual. “Em alguns casos, após o acolhimento individual, o usuário, se desejar, pode participar de algum dos grupos”, reforça a professora.

Conforme a professora, o acolhimento permitirá identificar os pontos frágeis da instituição, questionando, por exemplo, se há grupos que sofrem mais, quais as principais queixas e que estratégias vêm sendo importantes no enfrentamento da pandemia, permitindo que se proponham e planejem ações coletivas.

“Esse projeto foi gestado ao longo de um ano. Montamos ele com muito cuidado e carinho. Contemplamos cuidados éticos, entendendo que estamos atendendo a nossa comunidade”, assegura. Nesse sentido, reitera a professora, ainda que venha a produzir conhecimento, não haverá estudos de caso e cada situação acompanhada terá outros profissionais que trabalharão juntos na identificação das melhores estratégias. “Entende-se que aquele que sofre tem o saber mais valioso sobre si, mas que pela dor, muitas vezes, não está conseguindo identificar como sair dessa situação. Nosso trabalho de escuta buscará resgatar esse saber singular, tecendo estratégias coletivas”.

Contexto exige atenção

Para Ana, as mudanças nas demarcações dos espaços público e privado estão embaralhando e desacomodando o viver dos sujeitos. “Os sentimentos de solidão, angústia, tristeza, insegurança, ou mesmo o abuso de substâncias como álcool e outras drogas são sintomas frequentes”, diz. No caso dos universitários, há outros elementos em jogo no ensino remoto, que decorre do contexto de pandemia, como, por exemplo, o distanciamento dos colegas ou mesmo a volta para casa dos pais, que muitas vezes gera conflitos. “Temos também a quebra de expectativas da vida universitária, que perde sem os encontros presenciais, gerando até mesmo desgosto com a escolha do curso e, consequentemente, evasão”, resume.

A professora lembra que a solidão, a angústia também afeta docentes e técnicos, pela mudança da rotina. “O excesso de trabalho on-line somado ao trabalho doméstico, o cuidado de enfermos, a perda de entes queridos, bem como a violência doméstica são questões que também demandam nossa escuta e acolhimento”. De acordo com ela, já há estudos que demonstram os impactos que esta situação pandêmica tem provocado na condição da saúde mental e psicossocial da população mundial e, em específico, da universitária.

“A formulação de um projeto de acolhimento psicossocial para a comunidade da UFSC vai na direção do compromisso social da universidade ao amparar, respeitar e conduzir o processo de cuidado ao sofrimento da comunidade da UFSC por profissionais qualificados”, sintetiza.

Ainda segundo ela, a proposta envolve uma perspectiva integral de ensino, pesquisa, extensão e administração, voltando-se, assim, à análise da conjuntura, das demandas da comunidade universitária e as possibilidades de gestão e expertise na implementação dessas propostas frente à pandemia. “Esse contexto aponta para a necessidade de acolhimento, atualização dos profissionais da atenção psicossocial para as novas modalidades de atendimento online e articulação com as redes de atenção”.

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>> Se quiser participar como voluntário do Acolhe UFSC, envie um e-mail para psi.acolheufsc@contato.ufsc.br ou inscreva-se em um dos formulários abaixo:
Psicologia Clínica / Gestão e Matriciamento

Imagem de destaque: Imagem de chenspec por Pixabay

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