Bloqueio da Capes ainda atinge 93 bolsas de pós-graduação da UFSC

18/09/2019 12:35

“A UFSC teve, ao todo, 248 bolsas de pós-graduação bloqueadas, incluindo as de mestrado, doutorado e de pós-doutorado, vinculadas à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC), tornando-se, assim, a instituição com maior perda de cotas de bolsas no país. Desse número, até o momento, 155 foram devolvidas, restando 93 bolsas cortadas durante o ano de 2019”, salienta a pró-reitora Cristiane Derani, gestora da área na Universidade.

A pós-graduação na UFSC é reconhecida, nacional e internacionalmente, pela sua excelência. Prova disso é que, recentemente, quatro teses defendidas por estudantes da instituição receberam o “Prêmio Capes de Tese 2019” e quatro menções honrosas. Além disso, no ranking da revista inglesa Times Higher Education (THE), divulgado no último dia 11 de setembro, a UFSC foi classificada como a 3a melhor entre as federais e a 5a melhor universidade do Brasil. Diante deste cenário, a pró-reitora, que também preside a Câmara de Pós-Graduação (CPG), reforça o compromisso desse colegiado “em defender a qualidade e o aprimoramento da pós-graduação, principalmente em momentos de incertezas e insegurança financeira”.

Na UFSC, os programas de fomento à pesquisa “DS” (Demanda Social) e “Proex” (Programa de Excelência Acadêmica) foram atingidos pela medida. Neste ano, com os cortes nos meses de maio e setembro, totalizaram:

Programa Mestrado Doutorado Pós-Doutorado Total
Capes DS 54 72 44 170
Capes Proex 26 35 17 78
Total 80 107 61 248

Quase 250 alunos de pós-graduação da UFSC foram afetados por esse abrupto corte das bolsas imposto pelo MEC. Deste universo, dois doutorandos em Educação Física – programa possui nota 6 na Capes, ou seja, excelência no cenário brasileiro – relatam o peso desta medida do Governo Federal em suas vidas.

Marina Christofoletti dos Santos conta que se preparou para o ingresso no doutorado por dois anos. Ser pesquisadora é o seu sonho desde a graduação e para alcançá-lo, foi necessário dar um intervalo em sua vida profissional. “Essa organização me fez abrir mão de participar de processos seletivos para docência no ensino superior e de atuar como profissional de Educação Física, para me dedicar exclusivamente, contando com a bolsa prevista no programa”. Enfatiza que “essa bolsa nunca foi vista como um salário”, e sim como uma ajuda de custo para conseguir desenvolver plenamente sua pesquisa.

O corte comprometeu sobremaneira seu projeto, que previa um estudo longitudinal nos Centros de Saúde que implantaram o programa do seu grupo de estudos. O programa beneficia mais de 350 adultos e idosos na atenção primária à saúde em 19 cidades catarinenses. Marina coloca que tornou-se inviável o suporte nas etapas de avaliação dos participantes. “Essa avaliação é o retorno social que tanto pregamos na área da saúde, mostrar que o que pesquisamos consegue melhorar a qualidade de vida e indicadores de saúde da população”.

Rodrigo Ghedini Gheller também teve a sua bolsa retida pelo MEC. Sua pesquisa está relacionada à área de Biodinâmica do Movimento Humano. Fez o mestrado também na UFSC e, em 2013, começou a lecionar em uma universidade privada, em Manaus, no estado do Amazonas. No segundo trimestre deste ano, passou na seleção da pós-graduação e da bolsa. Ele e a esposa mudaram suas rotinas profissionais para que Rodrigo pudesse iniciar o doutorado na Universidade. Uma das providências foi pedir demissão de seu emprego em Manaus. Com a notícia do corte, ele afirma que ficou bem complicada a situação, pois a bolsa é muito importante já que permite ao aluno dedicação exclusiva para a pesquisa.

A Câmara de Pós-Graduação da UFSC externou em nota sua solidariedade aos alunos da pós-graduação, “reconhecendo a relevância do seu movimento e sugerindo que os programas dialoguem com os estudantes para encontrar soluções adequadas às suas realidades. Em continuidade, expressa, ainda, sua solidariedade para com todos os que estão na defesa da UFSC e do padrão de excelência na produção de ciência e tecnologia e na formação de recursos humanos”.

posicionamento oficial à comunidade acadêmica foi emitido após reunião no dia de 12 de setembro de 2019, na mesma data em que a Capes noticiou a liberação de três mil novas bolsas para os programas com nota 5, 6 e 7, sem deixar claro quantas das 11.811 bolsas já bloqueadas no Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG) em 2019 serão repostas às universidades federais.

A nota também expõe que “os sucessivos cortes de recursos financeiros e de bolsas ocorridos neste ano têm levado à paralisação das pesquisas, ao prejuízo à ciência e à tecnologia bem como à formação de recursos humanos qualificados no país. Sublinha-se, ainda, as consequências negativas trazidas aos estudantes da pós-graduação com dedicação exclusiva, tais como a dificuldade de permanência e a impossibilidade de sobrevivência material. É de se notar inclusive o sofrimento psíquico dos pós-graduandos e dos docentes da UFSC”.

A pró-reitora argumenta que “se o quadro atual de asfixia financeira na pós-graduação não for imediatamente resolvido, estará em xeque o próprio sistema nacional de Educação, Ciência e Tecnologia do país”. Diante disto, a CPG reivindica:

  • reposição das bolsas dos cursos notas 3, 4 e 5;
  • reconstituição do orçamento de 2019;
  • recomposição do orçamento na Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2020;
  • aumento de investimento na educação e na ciência;
  • revisão da exigência de novos critérios e indicadores, a exemplo do planejamento estratégico e de autoavaliação para este quadriênio;
  • não rebaixamento das notas dos programas na avaliação quadrienal da Capes.

Mais informações: propg.ufsc.br

 

Rosiani Bion de Almeida/Agecom/UFSC

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