Abertura do Congresso propõe aprofundamento de compreensão das causas e consequências do assédio laboral

09/10/2015 18:18

O assédio no trabalho é apenas a ponta do iceberg e culpabilizar pessoas sem entender as causas não resolve a situação, afirmou Margarida Maria Silveira Barreto, presidente da Presidente do III Congreso Ibeoramericano sobre Acoso Laboral e Institucional e do IV Seminário Catarinense de Prevenção ao Assédio Moral no Trabalho na conferência de abertura do evento, na noite da última quinta-feira. Até o sábado, dia 10, a UFSC sedia uma série de palestras, mesas redondas, vivências e outras atividades para analisar, compreender e combater o problema.

A cerimônia de abertura, no Centro de Cultura e Eventos, foi rápida: após um apresentação teatral no saguão, mostrando situações de assédio, foi formada a mesa no Auditório Garapuvu. Além de Margarida, a mesa era Antes da cerimônia, foi apresentada uma peça de teatro no saguão - Foto: Henrique Almeidacomposta pela Vice-Reitora Lúcia Pacheco, o presidente da Associação Latino-Americana de Juízes do Trabalho, Roberto Carlos Pompa, a presidente da Comissão de Saúde na Assembleia Legislativa, deputada estadual Ana Paula Lima, a procuradora regional do trabalho Adriane Reis de Araújo, o procurador do trabalho Acir Alfredo Hack, e a representante da Rede Iberoamericana pela Dignidade no Trabalho e nas Organizações, Florencia Peña Saint-Martin. Também foram convidados ao palco, em cadeiras próximas à mesa, representantes de diversas associações e sindicatos. Cada um deles fez uma fala rápida, dando boas vindas aos participantes e saudando a realização do evento na UFSC.

Ana Paula relembrou o setembro amarelo, de combate ao suicídio, e levantou, como provocação, a possibilidade dos números de pessoas que atentam contra a própria vida estar relacionado às pressões no trabalho. Roberto advogou a criação de um fórum de defesa contra a precarização do trabalho e o estabelecimento de novos modelos de relações laborais, com participação dos trabalhadores na condução da empresa. “As regras da democracia nas quais vivem nossos povos devem ser levadas às fábricas e às empresas. O assédio elimina os elementos estabelecidos pelo Estado de Direito”, afirmou. Florencia falou da necessidade de equilibrar teoria e ação. “Sou acadêmica, nós devemos continuar estudando. Mas há pessoas que estão sofrendo, tendo seu direitos deixados de lado; devemos pesquisar e agir”, disse.

Margarida Barreto apontou relações entre sistema econômico e pressões no trabalho

Margarida Barreto falou da necessidade de buscar as causas do assédio na cultura gerencial - Foto: Henrique AlmeidaDoris Acevedo, coordenadora da conferência de abertura, brincou antes de apresentar Margarida mais longamente: “é raro coordenar uma mesa com uma só pessoa, mas também é uma honra ter sido escolhida”. A palestrante, dedicou-se, então, a citar razões e meios que criam ambiente propício para a proliferação do assédio. “Temos uma cultura gerencial que define como princípio menores gastos e menores custos, com metas irrealizáveis. A capacidade de transformar tudo e todos em mercadoria não deixou de fora os trabalhadores”, falou. É preciso, explicou, submergir nas entranhas da relação entre capital e trabalho e encontrar suas contradições.

De acordo com Margarida, o resultado é que há uma pressão generalizada no mundo do trabalho, mais intensamente do que no passado, o que ocasiona sentimento existencial de perda do lugar, o que leva o trabalhador a estranhar a empresa e sentir-se só, sem ter em quem confiar. O sistema de dominação estimula permanente a co-dependência, em que cada gestor repassa a pressão sofrida e entra em situação de obediência irrestrita, fomentada pelo sistema financeiro apontou. Cria-se assim uma “liberdade coerciva em nome da maximização de resultados”, resumiu.

Média em Santa Catarina é de 20 casos por mês

O objetivo do III Congreso Iberoamericano sobre Acoso Laboral e Institucional e o IV Seminário Catarinense de Prevenção ao Assédio Moral no Trabalhoé promover o encontro de diversas culturas (Espanha, México, Cuba, Venezuela, Porto Rico, Uruguai, Chile, Argentina e Brasil), com a oportunidade de trocar e experiências a respeito o tema. Entre os participantes, estão presentes profissionais e estudantes de várias áreas do conhecimento: medicina, psicologia, direito, administração, engenharia, entre outras.
Apenas em Santa Catarina, o Ministério Público do Trabalho registrou de 1º de janeiro de 2013 a agosto de 2015, 613 denúncias relacionadas ao tema. Foram 204 procedimentos instaurados em 2013, 216 em 2014 e 193 somente nos oito primeiros meses de 2015, demonstrando um elevado acréscimo dos números. Uma média de 20 casos por mês.

Fábio Bianchini – Jornalista/Agecom/Diretoria Geral de Comunicação
fabio.bianchini@ufsc.br

Fotos: Henrique Almeida – Agecom/Diretoria Geral de Comunicação
henrique.almeida@ufsc.br

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