Pesquisa da UFSC estuda controle de gordura trans em produtos de lanchonetes da Universidade

09/09/2015 11:27

Os padrões e comportamentos alimentares da população têm sido influenciados por fatores como menor disponibilidade para o preparo das refeições e o tempo gasto nele, o aumento do número de vezes em que as pessoas comem fora de casa e o acréscimo do consumo de alimentos processados. Os produtos alimentícios industrializados mais comprados pelos brasileiros são os de panificação – salgados fritos e assados, biscoitos salgados, pizzas e sanduíches –, que apresentam elevado teor calórico e de gorduras, entre elas, a trans, que pode ocasionar diversos malefícios à saúde, como desenvolvimento de doenças cardiovasculares, diabetes melito, obesidade, depressão e câncer. Jovens no ambiente universitário consomem habitualmente produtos de panificação com presença da gordura trans.

Pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Nutrição (PPGN), no contexto do Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições (NUPPRE) da UFSC, teve como objetivo implementar o controle de gordura trans em produtos de panificação de um fabricante que é fornecedor de lanchonetes do campus de Florianópolis da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O estudo é resultado de uma dissertação de mestrado defendida em 2015 pela nutricionista Mariana Kilpp Silva, com orientação da professora Marcela Boro Vieiros, e parcerias com a professora Rossana Pacheco da Costa Proença e a egressa de doutorado, Vanessa Hissanaga-Himelstein.

 Etapas do estudo

O estudo foi executado em três etapas: a primeira foi a da identificação dos produtos de panificação com gordura trans comercializados nas lanchonetes do campus Florianópolis – a coleta de dados foi realizada nas 13 lanchonetes do campus. A etapa seguinte foi a seleção do fabricante, escolhido devido à possibilidade de fornecer maior número de produtos de panificação passíveis de conter gordura trans aos consumidores da Universidade. Na terceira etapa houve a implementação, no fabricante selecionado, do Método de Controle de Gordura Trans no Processo Produtivo de Refeições (CGTR), que ocorreu de novembro de 2014 a fevereiro de 2015.

Foram avaliados todos os produtos de panificação comercializados que continham rotulagem: pães de queijo, pães de batata recheados com requeijão, biscoitos salgados simples, salgados assados de massa branca e integral (empanadas, calzones e esfirras), salgados assados de massa semifolhada (croassãs e folhados), salgados fritos de massa cozida (coxinhas) e calzones doces.

Todas as lanchonetes comercializavam produtos de panificação com presença da gordura trans. Dos 120 produtos analisados por meio dos rótulos, 92 (76,7%) continham ingredientes passíveis de conter gordura trans, dos quais 60 (65,2%) foram identificados pela presença dessa gordura na tabela de informação nutricional, e 68 (73,9%) pela lista de ingredientes – devido ao uso de margarina (51,5%), gordura vegetal hidrogenada (27,9%) e gordura vegetal (20,6%).

Foram identificados 21 fabricantes que comercializavam produtos de panificação nas lanchonetes: o selecionado para o estudo os fornecia para três lanchonetes do campus da Universidade, com sete diferentes produtos de panificação, todos com ingredientes passíveis de conter gordura trans.

Na implementação do método CGTR, após acompanhamento e avaliação de todas as etapas do processo produtivo, foi identificado que todos os 39 produtos de panificação fabricados pela empresa utilizavam ingredientes passíveis de conter gordura trans, dos quais 59% possuíam em sua composição caldo de galinha industrializado; 54%, gordura vegetal hidrogenada; 44%, margarina industrial; 13%, requeijão cremoso original; e 3%, queijo cheddar – todos identificados com presença de gordura trans por meio das informações contidas nos respectivos rótulos.

Foram então realizados testes culinários para desenvolver novos produtos sem gordura trans: o teste dos recheios foi feito com a substituição do caldo industrializado por temperos frescos e naturais e por caldo industrializado sem gordura trans; além disso, houve a substituição de requeijão contendo gordura vegetal por produtos similares sem gordura trans. Para as massas, foram realizados testes culinários substituindo gordura vegetal hidrogenada e margarina por óleos vegetais (soja, girassol e algodão) e o caldo de galinha industrial por caldo de galinha caseiro. Com o desenvolvimento e testes das novas formulações, foi demonstrada a possibilidade de fabricar produtos de panificação isentos de gordura trans industrial.

Além dos testes, foram implementadas ações para o controle da gordura trans no local do estudo, que deram origem a diversas recomendações para fabricantes envolvidos no processo produtivo de produtos de panificação.

Resultados

Destaca-se a relevância do método CGTR no processo produtivo de refeições e, a partir do estudo, a viabilidade de implementá-lo na produção de produtos de panificação. A aplicação do método auxilia colaboradores e gestores da área de panificação a identificar a gordura trans no processo produtivo e propor ações corretivas para controlar seu uso ou eliminá-la. Da pesquisa também se conclui que o uso de óleos vegetais na fabricação de produtos de panificação e a utilização de insumos isentos de gordura trans são alternativas viáveis para seu controle nos alimentos, possibilitando aos consumidores opções mais saudáveis do ponto de vista nutricional.

Conclui-se, portanto, que disponibilizar, em lanchonetes de ambientes universitários e escolares, alimentos com melhor qualidade nutricional e isentos de gordura trans é uma forma de prevenir doenças, já que essa substância é, comprovadamente, nociva à saúde e não possui limite seguro de ingestão.

Contatos: Mariana Kilpp Silva: mariana.kilpp@ifsc.edu.br; Marcela Boro Veiros: marcela.veiros@ufsc.br; e Rossana Pacheco da Costa Proença: rossana.costa@ufsc.br.

 Edição: Alita Diana/Jornalista da Agecom/DGC/UFSC
alita.diana@ufsc.br

Revisão: Claudio Borrelli/Revisor de Textos/Agecom/DGC/UFSC
claudio.borrelli@ufsc.br

 

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