Grupo de Pesquisa em Enfermagem na Saúde da Mulher e do Recém-Nascido comemora 10 anos

24/07/2015 07:50

Quando o Grupo de Pesquisa em Enfermagem na Saúde da Mulher e do Recém-Nascido (Grupesmur) foi criado, o objetivo era produzir e divulgar conhecimento na área da enfermagem, voltado para esta população específica, em uma perspectiva multidisciplinar. Hoje, dez anos depois, o grupo possui uma produção extensa e é favorável a medidas que incentivem o parto natural, como as novas regras estabelecidas pelo Ministério da Saúde e da Agência de Saúde Suplementar (ANS). Segundo a líder do grupo, Evanguelia Kotzias Atherino dos Santos, estas normas são positivas porque podem diminuir a grande taxa de cesáreas no Brasil, que chega a atingir 84% na rede privada de saúde e 40% na pública.

Para aprofundar estudos na sua área de atuação, integrantes do Grupesmur desenvolveram 29 dissertações e quatro teses, entre 2005 e o primeiro semestre de 2015. Uma destas pesquisas é sobre “Rituais de cuidado realizados pelas famílias na preparação para a vivência do parto domiciliar planejado”,que entrevistou 25 famíliasque realizaram parto em casa de setembro de 2010 a abril de 2011. As pesquisadoras do grupo identificaram que os casais consideravam suas casas um local mais acolhedor e aconchegante para ter um bebê do que o hospital. Esta instituição era descrita, na maioria das vezes, como um lugar frio, com pessoas estranhas e sem envolvimento afetivo, o que levava à escolha do parto domiciliar.

Já o estudo “Parto normal e cesárea: representações sociais de mulheres que os vivenciaram” foi realizado com 20 mulheres que fizeram parto normal ou cesárea entre julho e outubro de 2010. As entrevistadas afirmaram que o parto natural trazia uma dor excessiva, mas que a recuperação era muito rápida, permitindo às mulheres realizarem atividades rotineiras em poucos dias. A cesárea foi vista como uma forma mais rápida e cômoda de parir e, principalmente, sem dor. Mas foi associada a sentimentos ruins, como temor, aversão e trauma e a uma recuperação muito demorada. As mulheres entrevistadas descrevem a cesárea como um procedimento cirúrgico a ser evitado, por causa da gravidade e riscos como infecção, hemorragia e choque anafilático. Também foi percebido que a decisão pelo tipo de parto é feita por indicação médica e que as elevadas taxas de cesárea não estão relacionadas à vontade das mulheres.

A líder do Grupesmur afirma que o alto índice de cesáreas no Brasil não se deve somente à escolha médica. Fatores como a falta de orientação às gestantes também são determinantes. “Algumas mulheres decidem sem ter conhecimento das complicações para elas e para os bebês”, afirma. Com as novas regras, esta situação pode mudar: grávidas que decidirem fazer cesárea sem indicação médica terão que assinar um termo de consentimento mostrando que conhecem os riscos.

Evanguelia explica que a cesárea é um método muito importante para condições específicas. Mas garante que “generalizar e banalizar a cesariana pode trazer malefícios para a mãe e para o bebê”.

O Grupesmur continua desenvolvendo pesquisas na área, envolvendo temas como mulheres com câncer de mama e em situação de abortamento, atenção no pré-natal, mulher trabalhadora e amamentação, método canguru na atenção básica e violência obstétrica.Segundo dados de 2014 do Nascer no Brasil, um levantamento nacional sobre parto e nascimento, 74,8% das mulheres que tiveram parto natural com intervenção médica não puderam se alimentar durante o procedimento e 36,1% sofreram empurrões na barriga para forçar a saída do bebê. Estes dois casos são considerados violência obstétrica, assim como não deixar a gestante escolher o local em que o parto ocorrerá e proibir a entrada de acompanhante.

Mais informações:

Grupesmur (48) 3721-2208

Evanguelia Kotzias Atherino dos Santos (48) 3721-2206

 

Tamy Dassoler/Estagiária de Jornalismo/DGC/UFSC

tamydassoler@gmail.com

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