Pesquisa analisa relação entre discriminação e transtorno mental

23/09/2014 08:02

Pesquisa realizada no Departamento de Saúde Pública do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) associou experiências discriminatórias à manifestação de sofrimento psíquico, caracterizado pelo surgimento de transtornos mentais comuns, como depressão, ansiedade e estresse. A pesquisa foi realizada pelo professor João Luiz Dornelles Bastos, com a bolsista Pibic e estudante de Odontologia, Maria Vitória Cordeiro de Souza. Os pesquisadores analisaram dados obtidos a partir de entrevistas com estudantes da própria UFSC.

graficos1O total de 1.023 alunos do universo de 19.963 regularmente matriculados na Universidade no segundo semestre de 2011 responderam a um questionário, aplicado nos cursos de Ciências Contábeis; Direito; engenharias Elétrica, Mecânica, Química, e Sanitária e Ambiental; História; Medicina; Odontologia; Pedagogia; Psicologia e Sistemas de Informação. As perguntas abordavam características socioeconômicas, demográficas, experiências discriminatórias dentro e fora da UFSC e informações específicas a cada curso. Para analisar o sofrimento psíquico, 12 questões abordavam indícios de transtornos mentais comuns nas duas semanas anteriores à pesquisa. Já para avaliar as experiências discriminatórias, eram apresentadas 18 perguntas sobre possíveis ocorrências de tratamento diferencial ao longo da vida do estudante, incluindo frequência, motivação e grau de incômodo dessas ocorrências, e se o aluno havia se sentido discriminado em tais situações.

Após análise dos resultados, verificou-se que estudantes que relataram sofrer discriminação em alta frequência e intensidade – isto é, que responderam positivamente a pelo menos 11 questões das 18 que abordavam experiências discriminatórias – possuem 4,42 vezes mais chances de apresentar sofrimento psíquico, se comparados a alunos sem histórico de discriminação, independentemente de sexo, idade ou cor. A prevalência de sofrimento psíquico atingiu cerca de 50% dos que afirmaram ter passado por eventos discriminatórios, com maior frequência entre os alunos dos cursos de História, Pedagogia e Medicina (ver gráficos abaixo).

No curso de Engenharia Elétrica, a relação entre discriminação e sofrimento psíquico foi inversa: estudantes que relataram ocorrência de eventos discriminatórios apresentaram menor probabilidade de manifestar transtornos mentais comuns. Sobre essa divergência de resultados Maria Vitória afirma que “existem muitas teorias quanto à discriminação: alguns acreditam que ela torna a pessoa mais resistente; outros, que qualquer tipo dela acarretaria um sofrimento psíquico”. Assim, uma das explicações para essa diferença entre as consequências da discriminação, segundo a aluna o professor João Bastos, seria a de que o aluno de Engenharia Elétrica enfrenta o problema de uma maneira diferente do aluno de outros cursos.

A relação entre discriminação e sofrimento psíquico apresentou índices superiores aos encontrados em estudos anteriores, desenvolvidos em 2007, na Bahia, e em 2012, no Rio de Janeiro. Segundo os pesquisadores da UFSC, isso se daria pela abordagem diferenciada da pesquisa atual, que não levanta apenas tipos específicos de discriminação e permite uma avaliação mais contínua dos eventos, analisando-os quanto à intensidade e frequência. Recentemente, os resultados da pesquisa foram apresentados no Congresso Mundial de Epidemiologia, em Anchorage, no Alasca (EUA).

 

Mais informações com o professor João Luiz Dornelles Bastos no telefone (48) 3721-9388 ou pelo e-mail: joao.luiz.epi@gmail.com

Imagem destaque: internet

Gráficos: Leonardo Reynaldo/Coordenadoria de Design e Programação Visual/DGC/UFSC

Laura Fuchs/Estagiária de Jornalismo/DGC/UFSC

 

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