Laboratório de Hidroponia bate recorde de produção

19/03/2014 12:02

Professor Jorge Barcelos comemora a colheita de alface hidropônica com apenas 32 dias. Foto: Jair Filipe Quin

O Laboratório de Hidroponia da Universidade Federal de Santa Catarina comemorou recentemente um recorde histórico: a colheita de alfaces hidropônicas com apenas 32 dias de semeadura. O tempo equivale à metade exigida na produção convencional, que varia de 60 a 80 dias. Com quase duas décadas de atividades, o LabHidro é responsável pela criação de tecnologias na área e consolidou-se com uma das principais referências no Brasil na pesquisa e extensão sobre o cultivo hidropônico. A iniciativa é do professor Jorge Barcelos, que fundou o laboratório no Centro de Ciências Agrárias da UFSC.

De acordo com o professor Jorge, a produção mais rápida de alface deve-se ao uso de um material refletor, uma espécie de adesivo instalado sobre as canaletas onde são colocadas as plantas. Esse material aumenta o poder de fotossíntese, acelerando o crescimento. Ao mesmo tempo, não aumenta a temperatura e, dessa forma, não queima a planta. A nova tecnologia diz muito sobre o processo de descobertas do laboratório: trata-se de criatividade em adaptar algo originalmente utilizado para outra finalidade e que traz respostas positivas na produção hidropônica.

Extensão

Além de se destacar na pesquisa, outra atividade importante do LabHidro é a extensão, ou seja, levar o conhecimento para fora do ambiente acadêmico e de pesquisa. Desde 2001 já foram capacitadas cerca de 1200 pessoas, por meio do Curso de Hidroponia, que é oferecido três vezes por ano. A próxima edição será nos dias 22 e 23 de março, com vagas esgotadas. “Existe uma demanda muito grande por esse conhecimento. Quando anunciamos uma nova turma, as vagas se esgotam rapidamente”, explica o professor Jorge. Os cursos são sempre em março, julho e novembro.

O site do laboratório também tem a função de extensão. Diariamente recebe de 150 a 250 acessos, de vários locais do Brasil e de outros países. O site publica os mais variados temas, em textos, fotos e reportagens em vídeo. Uma delas é a experiência do LabHidro na produção de hortas caseiras, nas quais as plantas são cultivadas em potes de sorvete. O Laboratório também promove o já tradicional Encontro Brasileiro de Hidroponia, realizado anualmente em Florianópolis, que chega à sua 9ª edição em 2014. O evento será nos dias 18 e 19 de setembro e terá, pela primeira vez, o Simpósio Brasileiro de Hidroponia, com foco em pesquisas científicas na área, e que recebe trabalhos até 1º de julho.

História

Hidroponia é uma técnica milenar, em que as plantas desenvolvem-se na água, rica em substratos. A principal característica é o cultivo sem solo: as raízes podem estar suspensas em meio líquido, podem estar apoiadas em areia ou brita e, numa variação da técnica, podem ser aéreas e receberem água borrifada, as aeropônicas. A água é enriquecida, tornando-se uma solução nutritiva, da qual a planta retira todos os elementos necessários para se desenvolver. A produção é feita em estufas, o que ajuda a proteger de ataques de pragas, à variação climática, garantindo assim a produção homogênea ao longo do ano.

Como forma de agricultura, é uma técnica relativamente nova e foi bastante utilizada na segunda guerra mundial. O maior produtor mundial é a Holanda. No Brasil começou a ser introduzida na década de 1980, mas a popularização se deu nos anos 1990. “A principal característica da hidroponia é produzir num conceito de agricultura mais moderna, mais limpa, de qualidade, em qualquer lugar, com mão-de-obra familiar, que absorve tecnologia moderna, de forma mais flexível e mais ágil”, explica o professor Jorge. Com ela é possível produzir verduras, hortaliças de fruto, como tomate, e frutas em geral. No LabHidro se produz alface, rúcula, agrião, manjericão, cebolinha, salsinha, tomate, pimentão, pepino, berinjela, morango, pitanga, jabuticaba, groselha, amora e banana. Em regiões de deserto se produz maçã, laranja, banana e uva.

Limitação

Entre os entraves para a disseminação da hidroponia estão o alto custo da infraestrutura. O investimento mínimo é de R$ 20 mil, valor que cobre a estrutura e a capacitação.  A hidroponia também depende muito de energia elétrica, de uma fonte de água da melhor qualidade possível, e também das formulações de nutrientes. Essas são requeridas ao longo do crescimento da planta e são específicas para cada espécie. Outro fator a ser considerado é o mercado consumidor, que deve estar disposto a pagar um pouco mais por um produto de maior valor agregado. A título de comparação, uma alface hidropônica custa R$2,00, contra R$0,80 da alface convencional.

Embora mais protegido, o cultivo hidropônico não significa necessariamente a ausência de agrotóxico. “Existem agricultores que usam, mas em quantidade menor do que a agricultura convencional”, explica o professor Jorge. “O trabalho da Universidade é gerar tecnologia para não usar o agrotóxico, embora esta não seja a principal meta. A nossa meta é qualidade, e a ausência do agrotóxico é uma das consequência de um sistema criado para trazer qualidade, não só para o produto, como também para a mão-da-obra envolvida. Em resumo, hidroponia é agricultura com qualidade”, afirma o professor. Ele avalia que a agricultura atual perdeu a qualidade, por afetar a saúde do trabalhador e o meio-ambiente. “Hoje vejo uma regressão na agricultura convencional”, explica.

Mais informações:

Laboratório de Hidroponia – http://www.labhidro.cca.ufsc.br/

Professor Jorge Barcelos – j.barcelos@ufsc.br / (48) 3721-5438

 

Laura Tuyama / Jornalista da Agecom / UFSC
laura.tuyama@ufsc.br

Fotos: Jair Filipe Quint /Diretoria Geral de Comunicação / UFSC
jair.quint@ufsc.gr

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