Três espécies de salamandras são descobertas na Amazônia brasileira

22/08/2013 07:05

A recém descoberta salamandra Bolitogrossa tapajonica sp.nov. pode ser encontrada no Pará, na região do Rio Tapajós. Foto: Selvino Neckel de Oliveira

Após dois anos de estudos, uma equipe de pesquisadores divulgou a descoberta de três espécies de salamandra, originárias da região amazônica. A pesquisa foi publicada na edição de julho da revista internacional Zootaxa. Até o momento havia apenas duas espécies catalogadas, a Bolitoglossa paraensis e a Bolitoglossa altamazonica. O estudo, que analisou 278 indivíduos, concluiu que são cinco espécies diferentes. A descoberta faz parte da pesquisa de mestrado da bióloga Isabela Carvalho Brcko, junto à Universidade Federal do Pará (UFPA), e que teve orientação do professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Selvino Neckel de Oliveira, e do pesquisador do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), Marinus Hoogmoed.

O objetivo da pesquisa foi investigar se, diante da diversidade da Amazônia, existiriam apenas duas espécies de salamandras. Por meio de colaboração com instituições de pesquisa da região amazônica e também da Colômbia e dos Estados Unidos, os pesquisadores começaram a receber os exemplares descritos como Bolitoglossa parensis, conservados em formol, que fazem parte das coleções científicas dessas instituições. A partir da análise de características morfológicas de cada exemplar, os pesquisadores concluíram que, na verdade, tratam-se de cinco espécies diferentes, a B. altamazonica, a B.paraensis e três outras novas espécies, que foram batizadas de B. caldwellae sp. nov., B. madeira sp. nov. e B. tapajonica sp. nov.

Para o professor Selvino Neckel de Oliveira, que é pioneiro no Brasil na pesquisa sobre salamandras, esta é uma das mais importantes descobertas científicas na área, pois se trata de um grupo de anfíbios pouco conhecido pela comunidade científica. “Ainda há muitas espécies para ser conhecidas e descritas. A descoberta reflete a situação atual da biodiversidade brasileira –  de que ainda  sabemos muito pouco sobre ela. A descrição de uma nova espécie representa mais uma ferramenta que poderá auxiliar na criação ou mesmo na proteção de unidades de conservação representativas da nossa biodiversidade”, analisa o professor. O próximo passo da pesquisa é analisar o DNA. “É uma forma de descobrir o grau de parentesco entre elas, ou seja, entender como o processo de especiação ocorreu ao longo do tempo”, explica o professor Selvino.

Trajetória de 23 milhões de anos

As salamandras sul americanas são pequenos anfíbios, que podem medir de 3 a 12 centímetros de comprimento, respiram pela pele devido a ausência de pulmões e vivem geralmente em ambientes úmidos, na vegetação baixa, onde se alimentam de pequenos invertebrados, como cupins,  formigas, besouros. Seus predadores são serpentes, gaviões e gambás. No Brasil só ocorrem na região amazônica. O professor Selvino explica que as salamandras vieram da América do Norte há aproximadamente 23 milhões de anos. “Partindo de lá, passaram pelo istmo do Panamá e seguiram pelos Andes até a foz do Rio Amazonas, onde, em função do isolamento na floresta tropical, deu origem a novas espécies”, explica.

Exemplar de salamandra (Bolitoglossa paraensis) encontrada na região de Belém (PA). Foto: Selvino Neckel de Oliveira

Dadas as suas características fisiológicas, salamandras servem como indicadores de qualidade do ambiente, tanto em relação a mudanças climáticas, como a perda de hábitats. “Se naquele local existiam salamandras e hoje elas não são mais encontradas é porque alguma alteração ambiental está acontecendo”, explica o professor Selvino.

Os cientistas ainda não conseguiram fazer estimativas do tamanho e da distribuição das populações das espécies recém catalogadas para saber se correm risco de serem extintas, como é o caso da B. paraensis, que está na lista de espécies ameaçadas no estado do Pará. Ela só foi  encontrada na região de Belém, uma área urbana com mais de 3 milhões de habitantes que avança rapidamente sobre os remanescentes florestais. No entanto, os cientistas já sabem que as ameaças existem para as novas espécies. A B. madeira sp. nov. vive na região do Rio Madeira, onde estão sendo construídas as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia. A espécie B. tapajonica sp. nov. vive na região do Rio Tapajós, no Pará, em uma área de mineração de bauxita. A única que está relativamente protegida é a B. caldwellae, que pode ser encontrada no Acre. “Foram 23 milhões de anos de evolução para conquistar a Amazônia brasileira, e hoje, devido às atividades econômicas na região, essa conquista poderá ser perdida”, conclui.

Mais informações:

Laboratório de Ecologia de Anfíbios e Répteis do Departamento de Ciências Biológicas

Selvino Neckel de Oliveira – neckel@ccb.ufsc.br

Telefone: (48) 3721-5161

Site: http://herpetologia.ufsc.br/

Isabela Carvalho Brcko – isabelabrcko@gmail.com

 

Laura Tuyama / Jornalista da Agecom / UFSC

laura.tuyama@ufsc.br

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