Pesquisa da UFSC analisa preocupante conteúdo de sódio em lanches de crianças e adolescentes

12/08/2013 09:54

Mariana Vieira dos Santos Kraemer

A pesquisa sobre o conteúdo de sódio em alimentos industrializados para lanche consumidos por crianças e adolescentes brasileiros foi realizada no Programa de Pós-Graduação em Nutrição (PPGN) e no Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições (NUPPRE) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É resultado da dissertação de mestrado defendida pela nutricionista Mariana Vieira dos Santos Kraemer, em julho de 2013, sob orientação da professora do Departamento de Nutrição, Rossana Pacheco da Costa Proença e parceria com a doutoranda Renata Carvalho de Oliveira.

A dissertação está inserida em um projeto amplo que, até o presente momento, gerou três dissertações. A primeira averiguou o conteúdo de sódio em alimentos prontos e semiprontos para o consumo (http://noticias.ufsc.br/2012/09/brasileiros-consomem-excesso-de-sodio-em-alimentos-prontos-e-semiprontos) , utilizados em refeições de almoço e jantar. A segunda analisou o conteúdo de sódio presente em alimentos diet, light e convencionais  (http://noticias.ufsc.br/2013/08/pesquisa-da-ufsc-constata-alto-teor-de-sodio-em-alimentos-diet-e-light) . E, a presente pesquisa teve como objetivo analisar o teor de sal/sódio declarado no rótulo dos alimentos industrializados comercializados no Brasil usualmente consumidos em lanches por crianças e adolescentes.

Entende-se por lanche todo o momento de consumo alimentar, em qualquer horário do dia, dentro ou fora de casa, em que se consome alimentos sólidos e/ou líquidos não característicos de uma refeição completa por serem de rápido preparo e conveniência. Foram analisados, alimentos como: chocolates, refrigerantes, salgadinhos industrializados, frios, embutidos, pizzas, hambúrgueres, entre outros. Os alimentos participantes da pesquisa foram divididos segundo os grupos e subgrupos propostos pela legislação brasileira, a resolução RDC no 359 de 2003, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Foram avaliados 2.945 alimentos industrializados, destes, 21% apresentaram alto conteúdo de sódio e 36% apresentaram médio conteúdo de sódio, conforme a classificação proposta pela Traffic Light Labelling, do Reino Unido. Os grupos 5 (carnes e ovos), 6 (óleos, gorduras e sementes oleaginosas) e 8 (molhos, temperos prontos, caldos, sopas e pratos preparados) foram os que tiveram maior destaque quanto ao conteúdo de sódio, por apresentarem mais de 50% dos seus alimentos classificados como alto teor desse micronutriente. Além disso, os embutidos, os hambúrgueres, as linguiças e salsichas e os pratos preparados foram os subgrupos que se destacaram por apresentarem os maiores conteúdos de sódio por porção.

Quando avaliado o percentual que cada porção dos alimentos contribui na ingestão diária recomendada de sódio para crianças e adolescentes, observou-se que, novamente, houve destaque para os embutidos, linguiça e salsicha, bem como pratos preparados. Verificou-se que, em apenas uma porção, esses alimentos podem fornecer mais de 100% da necessidade diária de sódio para crianças e quase aproximar-se deste percentual para adolescentes.

Boa parte dos alimentos analisados, que contém elevados teores de sódio, são ingredientes de lanches. Ou seja, um embutido como o presunto, por exemplo, não é consumido isoladamente, ele compõe lanches como sanduíches e hambúrgueres. Quando analisado o conteúdo de sódio de lanches compostos como esses, verificou-se que o conteúdo de sódio é ainda maior. Um sanduíche com hambúrguer, composto por uma porção de pão, uma porção de hambúrguer, uma porção de milho e ervilha, uma porção de maionese e uma porção de ketchup, ofereceria, considerando os dados encontrados, em média, 1.379mg de sódio. Tal valor excede em 38% a necessidade diária de sódio de uma criança de até 3 anos, 15% a necessidade de crianças entre 4 e 9 anos e corresponde a 92% da necessidade de crianças e adolescentes a partir de 10 anos. Se adicionada batata frita como acompanhamento deste lanche, o teor de sódio excederia a necessidade diária de sódio em todas as faixas etárias, sendo esses valores 66%, 39% e 11%, respectivamente.

Em função dos resultados encontrados, acredita-se que crianças e adolescentes brasileiros estejam consumindo quantidades de sódio muito maiores do que as recomendações para a devida faixa etária. Este fato torna o contexto da alimentação de crianças e adolescentes preocupante, já que estudos apontam que a mesma tendência acontece com outros nutrientes, como açúcar e gordura.

Os dados da pesquisa preocupam  pois o excesso de sódio está relacionado ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como a hipertensão arterial e os problemas cardiovasculares. Embora haja uma escassez de estudos quanto às consequências do consumo elevado de sódio à saúde de crianças e adolescentes, algumas referências apontam o desenvolvimento dessas doenças já na infância. Neste sentido, ressalta-se a urgência na redução do conteúdo de sódio nos alimentos industrializados, especialmente naqueles voltados para o público infantil. Para que essa redução seja concretizada, enfatiza-se a importância do engajamento da indústria de alimentos e do governo brasileiro, pois se notou nessa pesquisa que alimentos similares continham diferentes conteúdos de sódio (baixo e alto), o que pode revelar a possibilidade da diminuição do sódio nesses alimentos.

Contatos: Mariana Vieira dos Santos Kraemer: marianavsk@hotmail.com

Rossana Pacheco da Costa Proença: rossana.costa@ufsc.br

Tags: crianças e adolescentesMariana Vieira dos Santos KraemerNUPREPPGNRossana Pacheco da Costa Proençasódio em alimentos