Pesquisa avalia doenças causadas por contaminação atmosférica ocupacional

02/07/2012 10:14

Estudo de contaminação atmosférica ocupacional desenvolvido por pesquisadores da UFSC identificou problemas em trabalhadores de galeria e de superfície de minas de extração de carvão – assim como em moradores de Lauro Müller, cidade próxima ao maior complexo termoelétrico a carvão da América Latina. Esse tipo de contaminação está relacionado ao ar que a pessoa respira durante suas atividades.

Taxas de chumbo 326% mais elevadas em operários de superfície de minas de extração de carvão e 151% em residentes de Lauro Müller foram reveladas. Os índices foram detectados a partir da análise de metais pesados na urina de trabalhadores das minas. Entre os resultados obtidos, apenas o manganês não apresentou taxas preocupantes. Os índices de chumbo, cobre, zinco e ferro de todos os envolvidos apresentaram níveis superiores em relação a um grupo de controle. Os níveis de zinco chegaram a 303,8% mais elevadas em trabalhadores de galeria das minas. As amostras foram comparadas a um grupo controle do banco de sangue do Hospital Universitário (HU) da UFSC.

“A inalação crônica de compostos químicos estranhos ao organismo produz várias doenças, como enfisema pulmonar, fibrose, bronquite, pneumoconiose e câncer, entre outras. Instala um processo inflamatório crônico que leva à geração de fatores pró-inflamatórios, síntese de matriz celular, proliferação de células como fibroblastos e a produção exagerada de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, que geram o estresse oxidativo”, destaca o professor Danilo Wilhelm Filho, do Departamento de Ecologia e Zoologia do Centro de Ciências Biológicas da UFSC, coordenador da pesquisa. Há anos ele estuda a suplementação de vitaminas para controle do estresse oxidativo associado a diversas doenças humanas.

Danilo lembra que, além da exposição crônica direta dos trabalhadores, outro fator favorece a contaminação atmosférica estudada nas pessoas que vivem no Sul do Estado. A geografia da região, aliada à prevalência de ventos nordeste na maior parte do ano, gera um fluxo circulatório de ar que demora a se dispersar, expondo a população local a essas substâncias durante cerca de oito meses do ano.

Biomarcadores de estresse oxidativo
A pesquisa no Sul de Santa Catarina levou em conta cinco grupos de 20 homens não fumantes, sem doenças inflamatórias ou crônicas recentes e sem lesões pulmonares detectadas – para fazer a comparação de biomarcadores de estresse oxidativo no sangue, além da análise de metais pesados da urina.

Parte do projeto foi desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Farmácia da UFSC, a partir da tese do professor da Unesc (Criciúma), Sílvio Ávila Júnior. Os resultados mostram um quadro de estresse oxidativo acentuado em trabalhadores da mineração de superfície de galerias – e preocupante também, entre familiares  residentes da vila destes trabalhadores, situada a cerca de 15 km da cidade de Lauro Müller.

Os biomarcadores de estresse oxidativo foram avaliados no sangue antes e depois de uma suplementação de vitaminas C e E. Após seis meses de suplementação destas vitaminas, em doses diárias abaixo das consideradas megadoses (ou seja abaixo de 1g), foi observada acentuada atenuação do estresse oxidativo no sangue de todos os envolvidos.

Lixo hospitalar
Pesquisa semelhante envolvendo contaminação atmosférica ocupacional foi realizada na mesma época em trabalhadores de uma incineradora de lixo hospitalar, em funcionamento desde 1996 na cidade de Capivari de Baixo, também no Sul do Estado. O estudo também avaliou moradores da vila destes trabalhadores, situada a 5 km da emissão dos contaminantes atmosféricos. As amostras foram comparadas a controles do banco de sangue do HU da UFSC, na tese de Fabrício Pagani Possamai, também da Unesc. O estudo foi igualmente desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação em Farmácia da UFSC.

Nesse caso foi utilizado o mesmo protocolo do projeto dos trabalhadores de mineração. Amostras de sangue foram colhidas antes e após seis meses de suplementação antioxidante. De forma semelhante ao estudo sobre trabalhadores da extração de carvão mineral, foi observada significativa atenuação do estresse oxidativo no sangue de todos indivíduos, trabalhadores e residentes, após a intervenção antioxidante.

Ameaça e proteção
O professor Danilo explica que cerca de 2% do oxigênio que respiramos se transforma em radicais livres, que reagem com muita facilidade com qualquer molécula biologicamente importante, a fim de acomodar sua estrutura eletrônica. Todo organismo que utiliza o metabolismo oxidativo necessita de uma enorme gama de antioxidantes, tanto de forma endógena como nutricional, que são moléculas capazes de neutralizar os radicais gerados. Mas nem sempre há antioxidantes suficientes para interagir com todos os radicais, como ocorre em diversas patologias – e no caso das contaminações abordadas nas pesquisas no Sul do Estado, gerando o estresse oxidativo.

Em quantidades adequadas, esses radicais podem agir como protetores do corpo, combatendo bactérias e vírus, regulando funções biológicas importantes. No entanto, sua produção em excesso pode causar danos às células saudáveis, pois os radicais também reagem com material genético, lipídios, aminoácidos e proteínas, modificando suas estruturas e funções. Diversos fatores externos e internos contribuem para o aumento da formação dessas espécies reativas, entre eles a obesidade, estresse psíquico, consumo excessivo de álcool, tabagismo, excesso de atividades aeróbicas, exposição à radiação (ultravioleta e outras) e o acúmulo de metais pesados.

De acordo com Danilo, as pesquisas indicam que a suplementação com vitaminas ajudaria os trabalhadores expostos a metais pesados e aos contaminantes atmosféricos da incineração hospitalar. “A suplementação poderia diminuir a geração de espécies reativas, e consequentemente os processos inflamatórios, atenuando o estresse oxidativo e os sintomas destas doenças ocupacionais, todos intimamente relacionados”, considera o pesquisador.

Saiba Mais:

Entrevista

– O estudo indica que a suplementação de vitaminas deveria ser indicada?
Danilo:
Sim! Custo relativamente baixo, e por serem suplementos nutricionais e não fármacos!

– A suplementação (ou dieta adequada em termos antioxidantes) é recomendada por médicos?
Danilo:
Cada vez mais. Vinte e três anos atrás, quando iniciei pesquisas na área, por contatos e investigações pessoais, quase nenhum conhecia ou prescrevia. Hoje o quadro é mais animador, mas o preconceito permanece elevado.

– Essa suplementação (ou dieta adequada em termos antioxidantes) poderia colaborar para a maior longevidade das pessoas?
Danilo:
Sim, é a base da teoria de longevidade vinculada aos radicais livres.

– Como a terapia antioxidante é vista por profissionais da saúde?
Danilo:
Ainda com muito preconceito, devido à polêmica envolvida com estudos de meta-análise (onde tentam computar o que existe na literatura congênere, realizando “filtros” geralmente de caráter subjetivo), e notadamente considerando a vitamina E, pouco presente nos itens alimentares de nossa dieta, devido aos processos de industrialização (refino), e também porque apenas 30% da sua ingestão é absorvida no intestino.

Mais informações: Professor Danilo Wilhelm Filho / dawifi@ccb.ufsc.br / (48) 3721-6917

Por Ana Luísa Funchal / Bolsista de jornalismo na Agecom

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