5º Seminário de Literatura Infantil e Juvenil debate formação de novos leitores

13/04/2012 12:01

A professora Vera Teixeira Aguiar fala sobre a leitura no Brasil: "Acho que a situação melhorou: as pessoas leem mais, só não leem livros".

“A promoção de novos leitores está ligada à formação de professores, pois eles são em grande parte os responsáveis pelo primeiro contato da criança com o livro”, explicou a professora Vera Teixeira Aguiar, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), durante a conferência Letramento Literário e Diversidade. A conferência abriu o 5º Seminário de Literatura Infantil e Juvenil (5º SLIJ), que tem por objetivo discutir e promover a formação de leitores. Como parte da Semana Municipal do Livro Infantil de Florianópolis, o evento começou no dia 11 de abril e termina nesta sexta-feira.

“Na universidade vemos os livros como um objeto natural, mas ele não tem nada de natural:  é um objeto que precisa ser aprendido pela criança”, afirma. Este aprendizado faz parte do que a professora explica como letramento literário, um conceito que vai além de apenas ler os livros, pois requer aprender a se movimentar no mundo da leitura. “Letramento literário é entender o que é o objeto livro, descobrir o que é ler, o que existe para ser lido e como encontrar aquilo que se gosta”, explica.

Desde o primeiro contato com o livro até se tornar uma leitora crítica, cada pessoa passa por um processo formado por cinco fases (ver o quadro), em que se vai de livros mais simples para leituras mais complexas. As fases não precisam necessariamente estar atreladas a faixas etárias ou aos anos escolares, mas são gradativas, ou seja, não se queimam etapas. “Qualquer que seja a fase em que o leitor está, temos que garantir o espaço da liberdade para fruição artística, para desenvolver a sensibilidade, a imaginação e o senso de humanidade – a arte humaniza”, afirma a professora Vera.

Práticas com leitores – Outro ponto de destaque da conferência foram os exemplos de práticas que os professores podem utilizar. Da França ela cita uma atividade simples com crianças de três anos. A professora local selecionou vários livros, tirou cópia das capas, recortou o título, o autor, e outros elementos, e pediu para que, a partir dos recortes, as crianças localizassem o livro original. O objetivo da atividade é mostrar para as crianças que todos os livros têm um título, um autor, um personagem principal. “Parece pouco, mas é esse contato primeiro com o livro que a escola tem que fazer, porque muitas vezes as famílias não têm o objeto em casa”, afirma.

Outro exemplo apresentado foi uma oficina de leitura que acontecia dentro de uma empresa de ônibus de Porto Alegre. Os participantes eram motoristas, cobradores, eletricistas, mecânicos, faxineiras, todos já alfabetizados. Como primeira atividade, a organizadora da oficina escolheu a leitura de textos presentes na vida cotidiana dos alunos: as faixas de parachoque de caminhão. A partir desta atividade o grupo passou por crônicas policiais, esportivas e até participaram de encontros com cronistas. “É preciso pensar em quem é o leitor, que lugar ele ocupa e o que pode ser interessante para ele”, explica a professora. A partir disso pode-se escolher uma leitura por seu grau de complexidade ou pelos diferentes gêneros de leitura, como poesia, romance, crônica, entre outros critérios.

Questionada sobre a pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, que mostra que em 2011 o número de brasileiros considerados leitores caiu 55% para 50% da população estimada, a professora vê os resultados com ceticismo. O Retrato da Leitura considera leitor aqueles que leram pelo menos um livro nos três meses que antecedem a pesquisa. “Pela minha experiência, acho que a situação melhorou: as pessoas leem mais, só não leem livros”, afirma. “Os jovens leem muito na internet, e escrevem muito também”, completa.

A aprendizagem da leitura em cinco fases


1. Pré-leitura
– anterior à alfabetização, ao domínio do código, até 4-5 anos. A criança tem contato com livros de imagens, com pouco texto. Os livros podem trazer cenas do cotidiano, histórias muito simples, poesia, rimas, quadrilhas, folclore, contos de fadas.

2. Anos iniciais – 1º à 2º série, entre 6 a 8 anos. São os mesmos livros da fase anterior, agora lidos por ela. É uma fase rica de fantasia e desenvolvimento da imaginação, por isso os contos de fada são importantes. As crianças descobrem que podem resolver problemas da vida real a partir da fantasia.

3. Leitura interpretativa – 3º à 5º série. Nesta fase os elementos mágicos perduram, e os da realidade começam a se mesclar na história. Um exemplo é o livro “Os meninos da rua da praia”, de Sérgio Capparelli, que retrata o cotidiano de um grupo de crianças que encontram uma tartaruga na praia, que na história é o elemento mágico, pois pensa e faz o leitor refletir. É uma leitura intermediária, que exige mais do leitor na interpretação dos fatos.

4. Introdução à leitura crítica – 6º e 7º séries. Nesta fase a criança começa a desenvolver domínio lógico e a capacidade de abstrair. É também o período em que a criança passa a se organizar em grupos, que são muito importantes para formação da personalidade. Os livros de interesse podem ser histórias de aventuras policiais, sobre grupo de crianças que resolvem as situações, por exemplo.

5. Leitura mais estética e crítica – a partir da 8º série e o ensino médio. Nesta fase os jovens estão organizando seu mundo de valores e definindo quem vão ser na vida adulta. Buscam textos que falem de amor, profissão, questões sociais.

Sobre o evento

O 5º SLIJ acontece anualmente e reune estudantes, professores e pesquisadores nas áreas de Educação, Psicologia, Biblioteconomia, Letras, interessados em debater sobre literatura infantil e juvenil e formação de leitores. O evento é um projeto dos membros do Núcleo de Pesquisas e Ensino em Língua Portuguesa e Alfabetização (NEPALP), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação, do Centro de Ciências da Educação (CED) da UFSC. Esta edição do seminário é organizada em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL),  com  o Núcleo de Estudos Negros (NEN), com o Programa de Educação Tutorial  – Pedagogia (PET/UFSC) e com o Grupo de Pesquisa Escolarização, Práticas Docentes e Conhecimentos Pedagógicos

Serviço:

O quê: 5º Seminário de Literatura Infantil e Juvenil (5º SLIJ)

Quando:  11 e 13 de abril de 2012

Local: Centro de Ciências da Educação (CED) e Centro e Filosofia e Ciências Humanas (CFH), Campus Trindade – UFSC

Mais informações: http://literaturainfantilejuvenil.wordpress.com

 

Por Laura Tuyama, jornalista na Agecom. Foto: Wagner Behr.

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