Crônica: “Ufsctock: Olhos de êxtase”

07/10/2011 17:05
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A edição do UFSctok de 2011 aconteceu entre os dias 30 de setembro e 2 de novembro na Praça da Cidadania - Fotos: @ufsctok

Há a coincidência de toda comoção efusiva ser a premissa de estranhos elogios. Não sei se é uma síndrome de compatibilidade, mas toda emoção tem que acompanhar a intensidade da estranheza das palavras ou então a área que o sujeito, emocionado, atua.

No final de semana passada cobri o festival Ufsctock, aqui mesmo, na UFSC. Confundia-me pelas andanças no campus por me concentrar na histeria das quatro mil pessoas que torciam pernas, esparramavam braços, cochichavam piscadelas no canto dos olhos e sussurravam rebolados nos ouvidos dos músicos e seguranças do evento.

Parado no meio do populacho todo,comecei a observar a simbiose de sensações que cada criaturinha que por ali remexia o corpo poderia replantar em mim. E qual não foi minha surpresa quando ouço de rabo de orelha, a êxtase nos meus olhos:

– Sou o espanto de não me conhecer mais. Todas as certezas que tive até então, agora são minhas desavenças. Os olhos embaçados procuram a luxúria de não olhar para mais nada que importa. Tudo que se vê, passa. Como um espasmo do silêncio. Dançando na inquietude de uma sala escura.

Não, ninguém gritou um troço desses no meio daquele afago de pessoas. Mas era exatamente assim quando a vi. A menina de cabelo curto e tênis sujo – moleca meio moçoila – saracoteava como se ela mesma fosse as cordas do violão e o couro dos tambores que no palco estremeciam. Naquele silêncio todo do seu xale desnucado, ela era as próprias cordas e tambores.  Toda moça muito encantadora precisa de um traçado masculino. A impossibilidade é atraente para qualquer homem que conhece o beneficio do desafio. Nunca se está tão perto que a distância não pareça uma simpatia de concessões.

Tenho a impressão que as palavras são sedentas. Compulsivas. O momento está ali, a sensação está ali. Nem precisavam aparecer, mas as palavras são narcisistas. Às vezes, elas não conseguem nem traduzir o que aconteceu, mas aparecem. Qualquer uma, as mais estranhas e inesperadas. Logo após o último show de sábado, ouço da menina efusiva e quase moleca:

– É catarse! É catarse!

Eu, como repórter, fiquei atento e esperei algum arrastão ou a queda de alguma estrutura do festival. Logo depois, mais calmo e conciso, olhei em volta e percebi o que ela queria com aquela estranha palavra. Não sabia o que significava, mas podia sentir o mesmo que a menina. O Ufsctock era a purificação dos instintos. Todos eles, num só.

Por Ricardo Pessetti/ Bolsista de Jornalismo na Agecom

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