Pesquisador aponta novas origens para folclore do boi de mamão

21/12/2010 13:33

O boi de mamão, que tanto encanta crianças e adultos por onde se apresenta, pode ter chegado à Ilha de Santa Catarina por obra dos espanhóis que várias vezes estiveram em terras catarinenses entre os anos 1500 e 1800, e não por influência do bumba meu boi nordestino como defendem alguns pesquisadores. A surpreendente revelação é um dos assuntos do livro O Boi de Mamão, folguedo folclórico da Ilha de Santa Catarina – Introdução ao seu Estudo, do professor e folclorista Nereu do Vale Pereira, pesquisador do Núcleo de Estudos Açorianos da Secretaria de Cultura e Arte da UFSC. A obra foi lançada na sexta-feira (17/12), às 16h30, no Largo da Alfândega, dentro da programação do Encontro de Bois de Norte a Sul – Ano 2.

Estudioso da cultura açoriana, o pesquisador também descarta a origem do folguedo nos Açores, contrariando o pensamento de muitas pessoas que divulgam a tradição. “Nos Açores não existe boi de mamão. Há brincadeiras com o boi de verdade, no campo ou na corda”, contesta o escritor. Segundo ele, o folguedo catarinense tem semelhança com práticas ibéricas ligadas às corridas de touro como o Juego de La Vaquilla ou Toro de Mimbre, feito com bois falsos para iniciar jovens nos exercícios taurinos na Espanha – e bem diferente da forma ritualística do bumba meu boi nordestino, de influência africana.

Com 188 páginas, a obra aborda as origens do boi de mamão como folguedo folclórico em Santa Catarina, assim como formas de organização da brincadeira, desde a construção dos personagens e confecção do figurino, além da seleção das cantorias e treinamento dos cantores e dançadores para sair às ruas. O livro traz ainda ilustrações de obras feitas por artistas espanhóis no século 18, que mostram imagens de brincadeiras com bois falsos confeccionados em madeira, couro ou tecido. O trabalho é resultado da vivência como participante deste folguedo popular e de mais de 30 anos de pesquisas sobre o tema nos Açores, Portugal continental, Brasil e Espanha.

Publicado pela Associação Ecomuseu do Ribeirão da Ilha, o livro tem apoio da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC), Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina (NEA/UFSC), Comissão Catarinense de Folclore, Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, Associação Literária Florianopolitana (ALIFLOR) e Academia Desterrense de Letras.

Sobre o autor

Natural de Florianópolis e descendente de açorianos, Nereu do Vale Pereira éeconomista, especializado em Planejamento Econômico, Sociologia e Planejamento Educacional, com pós-graduação em Ciência Humanas e Sociais. Foi professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), entre outras instituições, além de ter atuado como vereador e deputado, tendo sido um dos fundadores do Partido Democrata Cristão em 1947.

Presidente da Comissão Catarinense de Folclore, Nereu do Vale Pereira é autorde dezenas de livros, artigos e vídeos sobre a cultura açoriana, com ênfase em Florianópolis e no Ribeirão da Ilha, onde dirige o Ecomuseu. Também é membro de diversas instituições culturais, entre elas, o Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, Academia Desterrense de Letras (ADL), Academia Catarinense de Letras e Artes (ACLA), Associação Literária Florianopolitana (ALIFLOR) e Conselho Estadual de Cultura.

Serviço

O Boi de Mamão, folguedo folclórico da Ilha deSanta Catarina – Introdução ao seu Estudo (1ª edição), de autoria de Nereu do Vale Pereira Associação Ecomuseu do Ribeirão da Ilha, 188 p. R$ 30,00.

Foto: fragmento da tela Boi de Mamão, de Tércio da Gama (Brasil), 1984

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