Jornalista Celso Martins é o convidado do mês no Círculo de Leitura

24/11/2010 10:23

O jornalista Celso Martins é o convidado da 55ª edição do Círculo de Leitura de Florianópolis, que encerra as atividades de 2010 desse grupo que se reúne para falar sobre livros e cultura em geral. Com 33 anos de carreira, ele pertence à geração de repórteres acostumados à rua, a testemunhar os fatos onde eles ocorrem, e embora tenha formação acadêmica em História foi no ato de “reportar os acontecimentos”, segundo sua própria expressão, que passou a maior parte da vida profissional. O Círculo de novembro será no dia 25, quinta-feira, às 18h, na sala Harry Laus da Biblioteca Universitária da UFSC.

Celso Martins da Silveira Júnior nasceu em Laguna em 1955, mas criou-se em Florianópolis. Atua no jornalismo desde 1976, tendo iniciado as atividades de repórter no antigo “Diário Catarinense” (pertencente ao grupo Diários Associados, de Assis Chateaubriand). Na década de 70, atuou em veículos da imprensa alternativa paulista (“Movimento”, “Hora do Povo”, “Voz da Unidade”) e participou de movimentos poéticos e literários, lançando algumas obras mimeografadas.

Depois disso, passou pelas redações de “A Gazeta”, “Jornal de Santa Catarina”, “Bom Dia Domingo”, “O Estado” e “Extra” (este, de Joinville). Também foi repórter especial de “A Notícia”, na sucursal de Florianópolis, entre 1998 e 2007. Nos anos 90, foi produtor de jornalismo na rádio Guarujá e na TV Barriga Verde. Hoje, exerce o jornalismo através dos blogs Sambaqui na Rede (onde divulga textos e fotos sobre o bairro onde mora, como as festas do Divino, o carnaval, a pesca, a maricultura, os costumes, o meio ambiente) e Fragmentos do Tempo (focado nos seus estudos sobre o Contestado).

Publicou, entre outros, os livros “Vida dura” (poemas), “Anita Garibaldi – Heroína da liberdade” (em parceria com Dagoberto Martins), “Os Comunas – Álvaro Ventura e o PCB catarinense”, “Farol de Santa Marta – A esquina do Atlântico”, “Tabuleiro das águas – Resgate histórico e cultural de Santo Amaro da Imperatriz”, “Os quatro cantos do sol – Operação Barriga Verde” e “O mato do tigre e o campo do gato – José Fabrício e o combate do Irani”. E continua trabalhando sobre temas ligados à história de Santa Catarina. “Sou um repórter por vocação e faço dos jornais antigos e atuais a matéria-prima para minhas pesquisas”, conta.

O CÍRCULO

Criado pelo poeta Alcides Buss, o Círculo de Leitura é um projeto que permite ao convidado e aos presentes discutirem informalmente sobre os livros que estejam lendo, as leituras do passado e as influências de outros autores sobre o seu trabalho. Escritores e jornalistas como Salim Miguel, Oldemar Olsen Jr., Fábio Brüggemann, Inês Mafra, Mário Pereira, Maicon Tenfen, Cleber Teixeira, Dennis Radünz, Rubens da Cunha, Renato Tapado, Raimundo Caruso, Nei Duclós, Marco Vasques, Zahidé Muzart, João Carlos Mosimann, Mário Prata, Rogério Pereira, Rosana Bond e Tabajara Ruas foram alguns dos participantes das etapas anteriores do projeto.

BREVE ENTREVISTA

Como foram seus primeiros contatos com os livros e a leitura?
Celso Martins – Minha mãe lia muito, tive uma tia professora e minha avó também era uma leitora contumaz. Quando entrei no colégio de Aplicação da UFSC, aproveitei a boa biblioteca que havia ali. Naquele tempo, minhas leituras preferidas eram histórias de faroeste, em forma de gibis e livros de bolso. Mais tarde vieram os clássicos infantis e infanto-juvenis, escritos por Monteiro Lobato e Malba Tahan, e por fim a poesia dos modernistas da geração de 1922. Tive a sorte de crescer e estudar num ambiente que estimulava a leitura.

Na adolescência e juventude, que autores e livros foram mais marcantes?
Celso – Sempre tive interesse por alguns assuntos pontuais, e um deles foi a imigração inglesa para os Estados Unidos. Me impressionou muito, por exemplo, saber que no interior americano se tomava cerveja de manhã! Mas foi também uma fase em que li Balzac, Mark Twain, Julio Verne e James Fenimore Cooper. Posso dizer que me marcaram obras como “Madame Bovary” (Gustave Flaubert), “O vermelho e o negro” (Stendhal), “O velho e o mar” (Hemingway), “O tesouro de Sierra Madre” (B. Traven, com versão cinematográfica estrelada por Humphrey Bogart), “A mulher de trinta anos” (Balzac), “As vinhas da ira” (John Steinbeck) e “Os desgarrados” (William Faulkner).

E hoje, o que está lendo? Focou suas leituras em algum gênero específico?

Celso – Pelo gosto da pesquisa e da história, direcionei minha atenção para essas áreas. Tenho lido pouca literatura, em função das necessidades profissionais. Minhas leituras são de grandes reportagens em geral, ensaios históricos e sobre teoria da História. Nunca me interessei pelas teorias de comunicação, pela semiótica. Por outro lado, admiro os artigos que tratam da ética no jornalismo, da luta pelo diploma e assuntos que saem na revista “Imprensa” e outras publicações do gênero.

Tem alguma obra que deseja recomendar aos leitores?
Celso – Estou lendo “Para um novo conceito da Idade Média”, de Jacques Le Goff, que nega a tese de que o período que antecedeu ao Renascimento foi a “idade das trevas”. Aquele foi, na verdade, um tempo que permitiu o surgimento do comércio e das grandes navegações. Na alta Idade Média, por volta do século XIV, surgiram os monges que definiram um tipo de religiosidade que pudemos perceber nas raízes do Contestado – tema de meu TCC no curso de História da Udesc.

Como vê a relação dos jovens de hoje com os livros?
Celso – Os jovens de hoje não são melhores ou piores do que nós fomos – são diferentes. Há 15 anos, lembro que era difícil escrever qualquer texto, era preciso ir a uma biblioteca ou usar o telefone para checar muitas informações. Hoje, temos as facilidades da internet. Vivemos um momento de transformação, de fragmentação, de superficialidade, de um novo conjunto de demandas, mas ao mesmo tempo surge uma geração bem distinta da nossa. No jornalismo, a par das facilidades, os profissionais não vão mais para a rua “reportar” (o que fiz durante toda a carreira), e o resultado é a falta de emoção em tudo o que se escreve.

Contatos com Celso Martins podem ser feitos pelo fone (48) 3335-0200 ou pelo e-mail celsodasilveira@gmail.com.