Estudantes de psicologia ajudam adolescentes do Lar do Recanto do Carinho a escolher uma profissão

21/10/2002 18:14

Garantir um futuro melhor para filhos de pais portadores do vírus da AIDS é o objetivo do projeto desenvolvido pelo Laboratório de Informação e Orientação Profissional da UFSC (LIOP) no Lar Recanto do Carinho. No projeto ‘Orientação Profissional/Ocupacional com Adolescentes Institucionalizados do Lar Recanto do Carinho’, três estudantes de Psicologia, orientados pela professora Dulce Helena Soares, auxiliam esses jovens na escolha de uma profissão para que, quando completarem 18 anos e deixarem o lar, tenham uma perspectiva melhor para o futuro. “É a primeira vez que os abrigos de crianças soropositivas vêem-se obrigados a lidar com a longevidade dessas crianças. Dez anos atrás não se imaginava que crianças portadoras chegassem à adolescência. Hoje, graças às novas medicações, isso é possível, porém, os abrigos ainda não têm definido o que fazer com essas crianças quando elas atingem a maioridade e perdem o amparo legal”, explica o bolsista do projeto, Eliseu Oliveira Neto.

O projeto foi criado em julho deste ano, depois de uma solicitação do Lar ao LIOP para que fossem trabalhadas as profissões com os adolescentes da instituição. O trabalho dura em média três meses, em que são realizados dez encontros semanais com os adolescentes, entrevistas individuais e visitas a cursos técnicos e universidades. Nos encontros, através de jogos e brincadeiras dinâmicas, os terapeutas fazem os jovens refletir sobre o mundo do trabalho, interesses, influências e medos. A primeira turma, que está terminando o trabalho, é formada por 11 jovens de 13 a 16 anos. “Atendemos aos que tinham uma faixa etária que tornava possível a reflexão sobre o mundo profissional”, explica Eliseu.

Antes do início do trabalho em grupo, é necessário ler o prontuário dos jovens, já que eles são diferenciados do público de costume dos orientadores, por estarem abrigados. Além desse estudo, na entrevista individual com os participantes, procura-se esclarecer as expectativas deles e explicar como serão os encontros. “A entrevista inicial tem o objetivo de conhecer a história de cada um deles e fazer com que os terapeutas saibam quais questões precisam ser trabalhadas antes que se inicie o processo de escolha propriamente dito.”

Nos primeiros encontros, os terapeutas analisam as histórias pessoais dos jovens e fazem com que eles conheçam melhor a si mesmos e ao grupo. Também são trabalhadas questões como os desejos e medos dos adolescentes em relação à saída do Lar e as atividades da rotina da instituição e fora dela. Depois, os participantes começam a ter maior contato com as profissões, aprofundando o conhecimento sobre elas e adquirindo uma visão global das oportunidades de emprego. No ultimo encontro, o trabalho é avaliado nos aspectos de crescimento pessoal e grupal, comparando com as expectativas do início do processo. Em seguida, são realizadas as visitas a universidades e cursos técnicos.

Depois dos encontros, os participantes fazem outra entrevista individual. “O objetivo é auxiliar o jovem a se imaginar no futuro, através de um planejamento dos passos que deverão ser dados para que ele o alcance e esclarecer situações individuais que estejam interferindo na escolha da profissão”, destaca Eliseu. Os jovens também fazem uma avaliação pessoal e do processo de Orientação Profissional.

Eliseu lembra que no início do trabalho foi difícil, porque os jovens do Lar costumam “testar” todos os que trabalham com eles, como uma forma de se certificar de que não serão abandonados novamente, já que se tratam de crianças que foram parar na instituição por mandado judicial e retiradas de famílias que as punham em risco. “No começo foi árduo até ganharmos a confiança deles, depois disso foi prazeroso auxiliá-los a perceber algum tipo de futuro”.

É um trabalho fundamental na nossa formação acadêmica, para vermos que a orientação profissional pode sair do seu estereótipo de trabalho para jovens de classe média confusos com a escolha profissional e servir no auxílio de jovens de baixa renda ajudando a pensar sobre o futuro, organizar-se e facilitar a entrada no mundo adulto”, avalia Eliseu.

Além da professora Dulce, também supervisionam o projeto as professoras Maria Aparecida Crepaldi e Edite Krawulski. Nas supervisões, são discutidos com os bolsistas os progressos dos jovens e como tornar possível leva-los a refletir e conversar sobre o futuro. O projeto não tem financiamento, e o material utilizado pertence ao LIOP e ao Lar Recanto do Carinho.

Mais informações sobre o projeto pelo telefone 9983 0330, com Eliseu.